Nutrição na Gravidez: como a alimentação impacta a saúde
Especialista explica o que comer na gestação, quando usar suplementos e como manter uma dieta equilibrada durante a gravidez

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A gravidez é um momento singular na vida de uma mulher. Ao gerar uma nova vida, ela se depara com inúmeras emoções (muitas contraditórias), além de surgirem dúvidas e preocupações. E uma delas está ligada à questão nutricional, afinal o que vai ao prato impacta diretamente a saúde da mãe e o desenvolvimento da criança.
Mas afinal, quais as melhores opções para a mãe e o bebê? Como conduzir uma boa alimentação para garantir o bem-estar de ambos? É necessária a ingestão de suplementos? Para responder essa e outras perguntas, convidamos a nutricionista da saúde da mulher Ana Júlia Rebellatto - ela traz informações fundamentais ligadas à nutrição durante a gestação e orientações práticas para o dia a dia, além de desmistificar crenças ligadas a esse momento tão especial. Acompanhe:
NBE: Ana Júlia, por que a nutrição é um fator tão importante durante a gestação?
AJR: “A nutrição na gestação é essencial porque influencia diretamente no desenvolvimento saudável do bebê e na saúde da gestante. Durante esse período, há aumento nas necessidades nutricionais para sustentar o crescimento fetal, a formação da placenta, o aumento do volume sanguíneo e as adaptações do corpo materno. Uma alimentação equilibrada ajuda a prevenir complicações graves na mãe (como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional) e influencia nos hábitos de toda vida futura do bebê que vai nascer”.
NBE: Você pode citar os principais riscos de uma alimentação inadequada para a gestante e o bebê?
AJR: “Para a gestante, uma alimentação inadequada pode aumentar o risco de anemia, ganho de peso excessivo, pressão alta e complicações no parto. Para o bebê, pode levar a malformações, restrição de crescimento intrauterino, baixo peso ao nascer e maior risco de desenvolver doenças crônicas ao longo da vida, como obesidade e diabetes”.
NBE: Quais os nutrientes essenciais durante a gravidez e por quê?
AJR: “Todos os nutrientes são essenciais na gestação, mas alguns têm sua necessidade destacada. São eles: ácido fólico (auxilia na formação correta da coluna vertebral e da medula espinhal do bebê), ferro (previne anemia na mãe e no bebê), cálcio (essencial para a formação óssea completa do bebê e preservação da massa óssea da mãe), vitamina D (importante para a saúde do metabolismo em geral, imunidade, absorção do cálcio e energia), ômega-3 (auxilia no desenvolvimento neurológico do bebê) e as proteínas (que participam da formação de todos os tecidos)”.
NBE: Ocorre aumento da necessidade calórica durante a gravidez? Em qual fase?
AJR: “Sim, há um aumento da necessidade calórica, mas ele varia conforme o trimestre. No primeiro trimestre, a demanda energética não muda muito. Já no segundo e terceiro trimestres, há um aumento médio de 300 a 500 kcal por dia”.
NBE: Quais os principais suplementos indicados para gestantes (ácido fólico, ferro, etc.)?
AJR:”A suplementação é individualizada para cada gestante de acordo com seus exames sanguíneos e sintomas, e pode variar de acordo com o trimestre da gestação, mas o ácido fólico, o ferro e o cálcio geralmente são suplementados indicados para todas as gestantes”.
NBE: Quais aspectos caracterizam uma dieta equilibrada para gestante?
AJR: “Uma dieta que inclua todos os grupos alimentares (carboidratos, proteínas, gorduras boas, fibras e nutrientes), que seja tolerada pela gestante e adaptada para seu perfil”.
NBE: Quais alimentos devem ser priorizados no prato da gestante?
AJR: “Alimentos naturais e nutritivos, como frutas e vegetais, proteínas (carne, feijão, ovo...), cereais integrais, laticínios e derivados, fontes de gorduras boas (castanhas, azeite de oliva, peixes, entre outros) e muita água”.
NBE: Há diferença na alimentação recomendada para cada trimestre da gestação?
AJR: “Sim! No 1º trimestre o foco geralmente está no controle de náuseas e do cansaço, na suplementação de ácido fólico e na qualidade da alimentação, na medida do possível. Nesse trimestre o apetite pode variar e a gestante pode não conseguir comer muitos alimentos. No 2º trimestre há um aumento gradual da ingestão calórica, na medida que os enjoos vão diminuindo. É o momento de focar na qualidade dos alimentos, incluindo fontes de ferro, cálcio, proteínas e ômega 3. No 3º trimestre aumenta a demanda energética, e o foco é evitar desconfortos digestivos e acompanhar o controle do ganho de peso. O consumo de fontes de ferro, cálcio, proteínas e ômega 3 deve continuar”.
NBE: Quais alimentos devem ser evitados ou consumidos com cautela?
AJR: “Alimentos a serem evitados: álcool, peixes crus, carne mal-passada, leite e queijos não pasteurizados, cafeína, açúcar/doces em grande quantidade, embutidos (salsicha, presunto, mortadela, etc) e refrigerante, entre outros”.
NBE: Como lidar com enjoos, azia ou falta de apetite sem prejudicar a nutrição?
AJR: “Fazendo pequenas refeições ao longo do dia (evitando longos períodos em jejum), evitando alimentos gordurosos, muito apimentados ou ácidos (que pioram a azia), preferindo alimentos leves e secos pela manhã (como torradas ou bolachas salgadas, para aliviar enjoos), mantendo uma boa hidratação (mas evitando líquidos durante as refeições) e consumindo alimentos frios ou em temperatura ambiente. Essas práticas ajudam a aliviar os sintomas”.
NBE: Comer por dois é um mito ou verdade?
AJR: “É um mito. A gestante não precisa comer por dois, mas sim nutrir por dois. A qualidade da alimentação é mais importante que a quantidade”.
NBE: Gestantes devem evitar peixes crus e embutidos?
AJR: “Sim. Peixes crus (como sushi) devem ser evitados por risco de contaminação por parasitas e bactérias como a listeria, que podem causar infecções graves na gestação. Embutidos (como presunto, salame e salsicha) também devem ser evitados ou consumidos com muita moderação, pois são ricos em sódio, conservantes e podem conter nitritos e nitratos que não são recomendados durante a gravidez. Se forem consumidos, o ideal é que estejam bem cozidos e em quantidades pequenas”.
NBE: Quais as recomendações nutricionais para uma mulher grávida com diabetes gestacional?
AJR: “Consumir grãos integrais e fibras, controlar a quantidade de carboidrato em cada refeição, evitar consumir carboidratos sozinhos (associá-los com proteínas, fibras ou gorduras), evitar alimentos processados com muito açúcar (bolos, bolachas, tortas...), além de fracionar as refeições em até seis refeições/dia. Por exemplo: fazer um lanche da tarde de iogurte natural + granola sem açúcar + maçã picada. A gestante com diabetes gestacional deve manter acompanhamento nutricional durante toda a gestação e pós-parto, para acompanhar o quadro clínico”.
NBE: Quais as recomendações para gestantes vegetarianas ou veganas?
AJR: “Garantir a ingestão adequada de proteínas por meio de leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico), tofu, quinoa, sementes e oleaginosas, suplementar vitamina B12 (especialmente em dietas veganas), monitorar nutrientes críticos como ferro, zinco, cálcio, ômega-3 (DHA) e iodo, consumir alimentos ricos em ferro vegetal e associar com fontes de vitamina C (frutas cítricas) para melhorar a absorção. Além disso, realizar acompanhamento nutricional durante a gravidez”.
NBE: Qual o papel do nutricionista no pré-natal?
AJR: “A nutricionista tem papel fundamental no pré-natal, atuando na promoção da saúde da gestante e do bebê. É a profissional responsável por orientar uma alimentação adequada às necessidades de cada fase da gestação, garantindo a ingestão correta de nutrientes essenciais e o controle saudável do ganho de peso. Além disso, ajuda a prevenir e tratar intercorrências comuns como anemia, constipação, enjoos, diabetes gestacional e hipertensão. A nutricionista também oferece suporte emocional e comportamental diante das mudanças alimentares e corporais, contribuindo para uma vivência mais segura e positiva da gestação. O acompanhamento individualizado favorece tanto o bem-estar materno quanto o desenvolvimento saudável do feto”.