O impacto das telas na saúde ocular infantil
Uso excessivo de telas durante a infância pode prejudicar o desenvolvimento e a saúde visual da criança

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A cada dia, estamos mais viciados em telas (celulares, tablets, computadores, TVs e até mesmo relógios com acesso à internet) e a situação se agravou após a pandemia. O uso desses dispositivos tornou-se parte da nossa rotina – e da rotina de nossas crianças, desde cedo. No entanto, o excesso de tempo diante desses aparelhos pode trazer consequências preocupantes para a saúde ocular infantil.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e sociedades de optometria, menores de dois anos não devem fazer uso de telas, salvo durante as chamadas de vídeo com familiares. Para crianças de dois a cinco anos, a recomendação é não ultrapassar uma hora por dia (sempre com supervisão de um adulto) e a partir dos seis anos, somente com limites constantes, mantendo tempo equilibrado ao ar livre, sono adequado e supervisão.
Mas a realidade está longe do ideal**: dados mostram que somente 1/3 das crianças entre 2 e 5 anos - e apenas 1/4 entre as menores de dois anos - cumprem de forma efetiva as orientações sugeridas para o uso diário de telas.** E as consequências desse panorama preocupam.
Danos visuais, neurológicos e comportamentais
Segundo Sônia Salvagni Pinheiro - optometrista com especialização em Terapia Visual, Optometria Avançada e Desenvolvimento Infantil - os primeiros anos de vida da criança são cruciais para o desenvolvimento da visão. “O uso excessivo de tela nessa fase pode causar danos visuais, neurológicos e comportamentais. Se tratando de saúde visual, as crianças que passam muito tempo em visão de perto - muitas vezes de forma ininterrupta - correm o risco de desenvolverem pseudo-miopias, que mais tarde se transformam em miopia estrutural (com aumento da progressão)”, alerta.
A optometrista menciona que foram observados também efeitos na acomodação, na superfície e na motilidade ocular. E detalha: “Além do risco já citado ligado à miopia, o esforço prolongado para perto pode sobrecarregar o sistema visual, levando a sintomas como dores de cabeça, fadiga ocular, visão dupla, dificuldade para manter foco, estrabismo acomodativo (desalinhamento dos olhos associado ao esforço visual constante) ou mesmo distúrbios do sono (ligados à luz azul emitida pelas telas). Outro ponto importante é a falta do piscar, que pode comprometer a lubrificação ocular, ocasionando ardência nos olhos.
A especialista ressalta que associado a tudo isso, ainda se sobressai a falta do brincar, do correr e de outras brincadeiras nos dias atuais. “Essa rotina junto às telas faz com que a criança perca importantes aprendizados necessários para o seu pleno potencial de desenvolvimento. Esses aprendizados estão ligados às brincadeiras ao ar livre, aos esportes variados e ao exercício da socialização.” E completa: “Essas vivências não podem ser subestimadas, pois são determinantes na formação física, mental e emocional”.
Telas e miopia - entenda a questão
Estudos mostram um aumento significativo nos casos de miopia infantil nas últimas décadas, em especial em regiões urbanas. E como foi dito anteriormente, o principal fator associado é o tempo prolongado em atividades de perto, como o uso de telas, combinado com a falta de exposição à luz natural. Mas por que isso ocorre?
Sônia explica que dentro dos nossos olhos existe um músculo chamado ciliar, que é responsável por ajustar o foco quando olhamos para algo de perto. “Por exemplo: quando uma pessoa está lendo um livro, escrevendo, desenhando ou mesmo usando o celular, esse músculo precisa trabalhar para deixar a visão nítida. E quando olhamos para longe, como para casa do outro lado da rua ou para um quadro na parede, ele fica relaxado”.
Ela chama a atenção para o fato de que, hoje em dia, as crianças passam muito mais tempo em atividades que exigem a visão de perto (jogando no tablet, assistindo vídeos no celular ou fazendo tarefas da escola no computador). “Antes, era mais comum brincar na rua, correr no pátio de casa, mirar as estrelas no céu, jogar bola…e nessas brincadeiras, o olhar variava entre perto e longe, o que ajudava os olhos a se desenvolverem de forma mais equilibrada”, afirma.
A optometrista explica que forçar demais a visão de perto quando os olhos ainda estão crescendo pode acabar atrapalhando o desenvolvimento. “O uso constante do músculo ciliar e do cristalino sem pausas pode levar a problemas como a miopia”. E chama a atenção para um dos primeiros sinais de alerta: a visão borrada para longe após o uso prolongado de telas.
Dicas importantes:
- A cada 20 minutos de uso de tela, olhar para algo a pelo menos seis metros de distância por 20 segundos.
- Respeitar o orientação de limite de tempo de tela para cada faixa-etária infantil.
- Usar telas em ambientes bem iluminados.
- Incentivar as crianças a participar de atividades ao ar livre, diariamente, usufruindo da luz natural.
- Manter distância adequada da tela: pelo menos 30-40 cm de distância em celulares e Tablets.
- Levar a criança a consultas regulares com optometrista/oftalmologista, mesmo no caso de ausência de queixas.