Nada é mais sério do que uma criança brincando

A tecnologia está roubando o espaço das brincadeiras espontâneas e contribui para uma infância mais curta

Redação NBE

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02/10/2023
Nada é mais sério do que uma criança brincando Adobe Stock/NBE

3 min de leitura

Marilise Brockstedt Lech*

Embora a capacidade de brincar deva acompanhar o ser humano pela vida toda, é na infância que ela assume seu caráter de imprescindibilidade.

Em uma época onde a tecnologia, a competição e o consumismo podem estar roubando o valioso espaço das brincadeiras espontâneas, simbólicas e construtivas, vem à tona a antiga afirmação de Claparéde (1946) que nos lembra que “nada mais sério do que uma criança brincando”.

Enquanto a vida humana se torna cada vez mais longeva, contraditoriamente a infância está ficando cada vez mais curta. A partir disso, é função dos educadores, sejam pais ou professores, criarem oportunidades para que esse período seja vivenciado de tal maneira que esses pequenos sujeitos se desenvolvam plenamente, a partir de sua interação com o mundo à sua volta.

Cabe lembrar aqui que, para as crianças a brincadeira deve ter um fim em si mesma: o lazer. Já, para o educador, ela é um meio riquíssimo para favorecer o despertar da criatividade, da auto-confiança, da iniciativa, da socialização e do raciocínio lógico de seus educandos.

Além de permitir o pleno exercício dos aspectos sensório-motor e relacional, a atividade lúdica é o berço das atividades intelectuais da criança.

O ato de brincar

A partir desse princípio, Maria Montessori (1960) criou os jogos sensoriais destinados a estimular cada um dos sentidos desses sujeitos em construção. Estes jogos/brinquedos estão sendo cada vez mais utilizados nos espaços criados com vistas a favorecer a educação integral dos mesmos.

O exercício do brincar favorece a autonomia do pensamento na criança e lhe dá a liberdade de escolha, capacidade essa, limitada, na maior parte do tempo em sua vida real, ao deparar-se com a infinidade de regras que constituem a vida em sociedade.

Crianças pulando corda


Na brincadeira ela pode “ser” quem ela quiser, “ir” para onde quiser e recriar o mundo à sua maneira. Da mesma forma o ato de ouvir e ler histórias possibilita à criança, a imaginação dos cenários e personagens ao seu modo, despertando nela a mesma sensação de liberdade que caracteriza o brincar.

O ato de brincar deve caracterizar-se, acima de tudo, pelo prazer e pela espontaneidade e pode ser incrementado com o uso de objetos como os brinquedos em geral, construídos para tal finalidade, bem como por objetos do dia a dia que, nas inteligentes mãozinhas, transformam-se em objetos de seus desejos como em um passe de mágica.

Segundo o educador suíço Piaget, quando a criança brinca, ela assimila o mundo à sua maneira, sem compromisso com a realidade e, assim, sua interação com o objeto não depende somente da natureza do objeto, mas da função que ela lhe atribui.

O brincar e o brinquedo participam, juntos, na estruturação do Eu e na aprendizagem da própria vida, favorecendo o desenvolvimento dos processos psicológicos, a inserção social e cultural da criança. Nesse sentido, o brinquedo aparece como suporte para a brincadeira, proporcionando o estabelecimento de relações entre os objetos do mundo real, cultural, imaginário e espiritual.

Brinque!

A partir do exposto, fica evidenciado que a saúde física, emocional e intelectual das crianças (e também dos jovens e adultos) dependem muito da capacidade de brincar, de expressar-se livremente, de não ter medo de errar e, principalmente, de ter prazer por aquilo que se faz.

Por fim, considerando que todo ser humano é um educador, em todo tempo e lugar, e que o verdadeiro desenvolvimento se dá através das interações humanas, conclamo a todos para brincarem juntos, pois viver é uma brincadeira que, apesar de “séria”, é indispensável à felicidade humana.

“Você verá ...Que a emoção começa agora... Agora é brincar de viver...” (Guilherme Arantes).

*Marilise Brockstedt Lech é Mestre em Educação, Especialista em Educação Infantil, Psicóloga Educacional e Professora da Universidade de Passo Fundo. Artigo publicado originalmente na edição impressa do Nosso Bem Estar sob o título “Brincar e coisa séria”.

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