Avós na cozinha

Dia 26 de julho é celebrado o dia dos avós e em homenagem a eles te convidamos a uma carinhosa reflexão: sempre é tempo de dar continuidade à cultura alimentar de uma família.

Em muitas famílias, a cozinha é um espaço de encontro e de continuidade. É onde as histórias se misturam ao cheiro do refogado, onde o tempo parece passar mais devagar.

E, nesse cenário, a figura dos avós ocupa um lugar central: guardiões de memórias, receitas, temperos e modos de fazer que muitas vezes não estão escritos em lugar nenhum — apenas vividos.

As mãos que marcam a passagem do tempo conduzem a cozinha com sabedoria. Muitos aprenderam a cozinhar ainda crianças, no tempo em que as tarefas do lar vinham junto com a infância. Não havia livro de receitas, havia intuição, repetição, erro e acerto.

Transmissão silenciosa

A relação entre avós e netos nesse espaço vai muito além de ensinar a preparar um prato. É uma transmissão silenciosa de autonomia, de cuidado, de sensibilidade.

Ao mostrar como cortar a couve fininha presa na mão, como sentir o ponto certo para fritar um biscoito, ou como fazer o aproveitamento integral de um alimento, avós ensinam mais do que técnicas: compartilham uma maneira de estar no mundo.

A cozinha é resistência e invenção.

Foi, em algum momento, sobrevivência em tempos difíceis, e fartura, quando possível.

Tudo isso embalado pelo desejo de ver as próximas gerações seguirem em frente sem esquecer de onde vieram.

Sentar-se à mesa ao lado dos avós ou acompanhá-los no preparo das refeições é uma forma de reverência. Observar seus gestos, perguntar o porquê de cada ingrediente, ouvir as histórias contadas entre uma tarefa e outra é colher saberes que se perderão facilmente se não forem cuidados.

Os avós, por sua vez, também sentem-se vistos, ouvidos e reconhecidos quando essa troca acontece.

Não é raro que se emocionem ao perceber que suas receitas serão continuadas, ainda que adaptadas, pelas mãos de netos.

Mas, para isso, é preciso tempo e escuta. Em tempos de pressa e distrações constantes, a presença dos mais novos na cozinha com avós precisa ser cultivada com intenção.

É importante valorizar esses encontros como uma forma legítima de aprendizado.

Construindo identidade

Recolher as receitas favoritas, filmar e fotografar os modos de preparo, anotar as histórias por trás dos pratos eternizam aquilo que não está nos livros.

Mais do que isso: é uma forma de construir identidade, pertencimento e raízes.

É também necessário que essa herança não fique apenas no plano simbólico.

Que ela seja vivida na prática, seja nos almoços de domingo ou na escolha de plantar um tempero no quintal como faziam os mais velhos.

E aqui vale referenciar que manter viva essa lembrança das avós na cozinha é também manter viva uma memória coletiva, essencialmente feminina e popular, que, por muito tempo, foi invisibilizada.

Afinal, grande parte das tecnologias de cuidado e alimentação que hoje admiramos nasceram das mãos de mulheres anônimas dentro de suas casas.

Por fim, essa relação entre gerações na cozinha é uma ponte entre tempos.

Uma forma de reafirmar que tradição não é rigidez, mas continuidade com afeto.

A cozinha é lugar de liberdade, de invenção e de muito amor. Que mais netos se aproximem de seus avós com curiosidade e escuta.

Que neste dia dos avós muitos se sintam orgulhosos de ver suas histórias seguidas adiante.

Pois cada receita, cada cheiro, cada gesto compartilhado é também uma forma de dizer: eu vim antes, e deixo aqui um pedaço do meu caminho para você seguir.

Fonte: Idec – Instituto de Defesa do Consumidor