Sebastião Salgado dá voz para a AMAZÔNIA

Registros falam de um povo e sua floresta ainda preservados

Redação NBE

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04/04/2022
Sebastião Salgado dá voz para a AMAZÔNIA Sebastião Salgado

6 min de leitura

Quando os navegadores portugueses desembarcaram no Brasil em 1500, estima-se que aqui vivia uma população de cinco milhões de habitantes.

Dizimados por doenças, extermínios e destruição/apropriação de seus habitats, os povos originários e reais “donos” da terra hoje não são mais de 370 mil indivíduos, divididos em 188 grupos indígenas, que falam 150 idiomas diferentes.

Enquanto o mundo dito “civilizado” esperneia com guerras e a possibilidade de promover sua extinção em massa com o aquecimento global causado pelas ações humanas, 114 grupos indígenas já identificados na Amazônia nunca foram contatados e seguem vivendo em harmonia com a floresta.

O mundo extraordinário da Amazônia e a importância da sua preservação para a sobrevivência dos indígenas e para o equilíbrio global do clima no Planeta estão presentes na exposição AMAZÔNIA, que chegou ao Brasil em fevereiro, após estrear na França, Inglaterra e Itália.

A exposição fica até 10 de julho no SESC Pompeia, em São Paulo, e depois segue para o Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. Em 2023, vai ser apresentada em Belém e está prevista sua itinerância para outras capitais, ainda sem calendário.

AMAZÔNIA é o resultado de sete anos de experiências humanas e expedições fotográficas – por terra, água e ar – realizada por Sebastião Salgado em uma Amazônia ainda desconhecida que nunca cessa de nos surpreender com a cultura e a engenhosidade de seus povos, seus mistérios, sua força e sua incomparável beleza.

Graças à impenetrabilidade da selva, alguns povos puderam preservar seus modos de vida tradicionais por séculos. Atualmente, esta população está seriamente ameaçada, bem como a própria sobrevivência da floresta.

Grupo indígena em meio à floresta

Foto: Sebastião Salgado / Exemplificando a diversidade de povos da Amazônia, a foto do grupo indígena em meio à floresta, representa uma família Asháninka, da Terra Indígena Kampa do Rio Amônea, Estado do Acre.

Alerta

Em mais de 200 fotografias, Sebastião Salgado apresenta com realismo e arte uma região diversa e encantadora. Através de vídeos, traz testemunhos de lideranças indígenas sobre a importância da Amazônia e os problemas enfrentados em sua sobrevivência na floresta.

“Esta exposição tem o objetivo de alimentar o debate sobre o futuro da floresta amazônica. É algo que deve ser feito com a participação de todos no Planeta, junto com as organizações indígenas”, defende Sebastião Salgado que é reconhecido mundialmente como um militante pela preservação da Amazônia. “Para que a vida e a natureza superem o extermínio e a destruição, é dever dos seres humanos de todo o planeta participarem de sua proteção”, complementa.

A exposição teve a curadoria de sua esposa Lélia Wanick Salgado e foi concebida para ser uma mostra imersiva, um convite para ver, ouvir e, ao mesmo tempo, refletir sobre o futuro da biodiversidade e a urgente necessidade de proteger os povos indígenas e preservar esse ecossistema imprescindível para o planeta.

As vozes da floresta

Exposição Amazônia no SESC Pompeia, em São Paulo

Foto: Diego de Paula Lemos / Exposição Amazônia no SESC Pompeia, em São Paulo

A exposição Amazônia tem o percurso pontuado por uma criação sonora composta especialmente pelo músico francês Jean-Michel Jarre, baseada em sons da floresta – farfalhar de árvores, gritos de animais, canto de pássaros, som das águas descendo do alto das montanhas.

Os sons originais foram captados em diferentes partes da região entre os anos 1960 e 2019 e arquivados pelo Museu de Etnografia de Genebra. Outra sala de projeção mostra paisagens florestais musicadas pelo poema sinfônico “Erosão – Origem do Rio Amazonas”, do compositor brasileiro Heitor Villa-Lobos

Sebastião Salgado traz também a voz de lideranças indígenas através de sete filmes produzidos para a exposição, nos quais falam sobre suas vidas, seus problemas e suas esperanças. Os documentários foram filmados na Amazônia brasileira pouco antes da epidemia da Covid-19, evento que impediu a participação presencial dos indígenas nas mostras internacionais.

Em seus materiais de divulgação e em suas abordagens para a imprensa de todo o mundo, o fotógrafo traz à tona a grave devastação da floresta e as pressões sobre as comunidades indígenas.

A história da etnia Yawanawá, do Acre, é uma das mais impressionantes. Em cerca de 50 anos, a etnia saiu da absoluta invisibilidade para um período de grande exuberância cultural, tornando-se referência para o mundo.

Em 1970, sua comunidade não contava com mais de 120 membros, com altíssimo índice de alcoolismo e consequente desagregação social e cultural. “Nossa língua foi proibida, só os velhos a conheciam, as crianças só aprendiam o português. Nossas crenças e tradições eram consideradas diabólicas pelos missionários e muitos de nós acreditavam nisso. Passamos a viver como escravos no trabalho e na cultura”, conta Biraci Brasil Yawanawá, que no início dos anos 1990 assumiu a liderança do grupo, expulsou a missão religiosa, restabeleceu o ensino da língua tradicional e passou a incentivar o estudo dos antigos mitos e histórias, como forma de reconectar as novas gerações aos conhecimentos e memórias dos mais idosos. Em três décadas, a população cresceu dez vezes.

Os Yawanawá recuperaram a tradição dos rituais antigos e falam a língua ancestral, mas se conectam ao mundo contemporâneo usando smartphones e computadores, por meio de antenas de wifi instaladas nas aldeias, tornando-se prova viva de que indígenas podem aliar cultura tradicional a empreendedorismo.

Um dos aspectos marcantes da recuperação de suas antigas tradições é a arte plumária: os Yawá produzem alguns dos mais elegantes trabalhos com penas de toda a Amazônia. Em sua maioria, são feitos de penas brancas de águia, considerada como um animal sagrado.

Sebastião Salgado

Sebastião Salgado

Foto: Renato Amoroso / Sebastião Salgado

O fotógrafo Sebastião Salgado nasceu em 1944, em Minas Gerais, Brasil, e vive em Paris, na França. Economista por formação, começou sua carreira como fotógrafo profissional em 1973. Viajou para mais de 100 países com seus projetos fotográficos, que, além de inúmeras publicações na imprensa internacional, foram destaque em livros como Outras Américas, 1986; Terra,1997; Êxodos, 2000; Gênesis, 2013; Gold, mina de ouro Serra Pelada, 2019, e Amazônia, 2021, entre muitos outros.

Exposições feitas a partir dessas obras foram e continuam sendo mostradas até hoje em museus e galerias de todo o mundo. O documentário O sal da terra, 2014, codirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, conta parte da história do fotógrafo e recebeu o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cannes no mesmo ano e indicado ao Oscar.

Sebastião e sua esposa Lélia criaram o Instituto Terra, que tem como missão o reflorestamento, a preservação e a educação ambiental. E trabalham desde a década de 1990 na recuperação ambiental de parte da Mata Atlântica brasileira, no Vale do Rio Doce, no estado de Minas Gerais.

Foto principal: Beleza da arte plumária e do povo Yawanawá . Com cocar e rosto pintado, a menina integra a Aldeia Mutum, da Terra Indígena do Rio Gregório, Estado do Acre.

Saiba mais sobre Sebastião Salgado no filme documentário O Sal da Terra.

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