Oceano verde influencia o clima no mundo

Regime de chuva no continente já foi alterado

Redação NBE

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04/04/2022
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A região amazônica se estende por nove países sul-americanos e cerca de 60% da maior floresta tropical do mundo estão localizados em solo brasileiro. Ela cobre quase um terço do continente sul-americano, um território muito maior do que toda a Europa.

Possui uma das maiores concentrações de espécies botânicas do planeta e inúmeras plantas com notáveis propriedades medicinais, boa parte conhecida pelos povos indígenas.

No coração dessa natureza extravagante corre o rio Amazonas, que, alimentado por mais de mil afluentes – 17 deles com mais de 1.500 km de extensão –, despeja todos os dias 17 bilhões de toneladas de água no oceano Atlântico, equivalente a 20% do volume de água doce mundial.

Outras 20 bilhões de toneladas de água sobem diariamente da selva em direção à atmosfera formando os chamados “rios voadores”. Erguendo-se acima da selva amazônica, esses rios aéreos carregados de vapor d’água fluem por grande parte do continente sul-americano e carregam mais água do que o próprio rio Amazonas.

É notável, entretanto, a escala em que esse fenômeno está ocorrendo. Uma grande árvore pode tirar água de até 60 metros de profundidade e liberar até 1.000 litros por dia. E como essa operação se repete em 400 a 600 bilhões de árvores, é fácil entender que a floresta amazônica gera grande parte da água que depois recebe como chuva.

Na verdade, mesmo a água que chega ao continente por meio da evaporação da água do mar é rapidamente reciclada pela selva, em um processo conhecido como “evapotranspiração”.

Os “rios voadores” influenciam os padrões climáticos em todo o mundo e são vulneráveis aos efeitos do desmatamento e do aquecimento global

Esses “rios voadores” são vitais para o bem-estar de dezenas de milhões de pessoas, inclusive no Brasil: influem nos padrões climáticos em todo o mundo e são, por sua vez, vulneráveis aos efeitos do desmatamento e do aquecimento global.

O regime de chuvas no continente, inclusive no Sul do país, está intrinsicamente ligado a este fenômeno. Parte das estiagens que comprometem lavouras e abastecimento de água nas regiões Sul e Sudeste se deve aos desmatamentos da Amazônia que alteram os trajetos dos “rios voadores”

Cientistas estimam que, devido ao desmatamento acelerado e às mudanças climáticas, a temperatura do solo da Bacia Amazônica já subiu 1,5°C, e deve aumentar mais 2°C se as tendências atuais de emergência climática persistirem. Da mesma forma, eles temem uma queda na precipitação anual de 10% a 20% devido ao aquecimento do planeta.

Indígenas num rio na Amazônia

Foto: Guilherme Arruda

Impactos recentes

Desde a colonização do Brasil por Portugal, a Amazônia foi apelidada de “Inferno Verde”, uma selva impenetrável e encharcada que oferecia ao explorador nada mais que perigos. Os que sobreviveram ficaram famosos por seus relatos, como o conquistador espanhol Francisco de Orellana, o explorador alemão Alexander von Humboldt, Theodore Roosevelt e o marechal Cândido Rondon, cartógrafo do exército brasileiro considerado como grande protetor dos indígenas no Brasil.

Mas muitas expedições, especialmente aquelas que esperavam encontrar ouro na mítica cidade perdida de El Dorado, jamais retornaram. Alguns exploradores podem ter sido mortos por populações locais hostis ou sucumbido a picadas de cobra ou à fome. Outros, ainda, em número surpreendentemente grande, optaram por se estabelecer com os povos indígenas para compartilhar seu bucólico estilo de vida.

Hoje, a floresta tropical goza de uma imagem menos ofensiva, mesmo romântica, de um “paraíso verde” em um patrimônio natural extraordinário, com uma das maiores concentrações de espécies botânicas do planeta, com cerca de 16.000 espécies arbóreas e inúmeras plantas com notáveis propriedades medicinais. Além disso, essa densidade vegetal incomparável permite que a floresta absorva gases de efeito estufa e libere oxigênio. E é também o abrigo de centenas de comunidades indígenas, algumas das quais até hoje não tiveram nenhum contato externo.

Os rios fornecem a essas comunidades os principais alimentos ricos em proteínas. Mas elas aprenderam a se manter distantes de zonas naturais de inundação, que às vezes são invadidas por até 100 quilômetros durante a estação de cheia. Provenientes em sua maior parte do degelo da neve e da chuva dos Andes, essas águas incham a rede hidrográfica assim que atingem a planície, entre abril e junho. As inundações resultantes lembram constantemente que, no passado, a maior parte da Bacia Amazônica estava submersa.

Varal de roupas sobre palafitas na AmazôniaFoto: Guilherme Arruda

Desde o século 17, vilas e cidades surgiram ao longo do rio Amazonas e seus afluentes, mas foi a partir da metade do século 20 que o impacto de destruição ficou mais acirrado, com os fluxos migratórios originados do sul do país, que iniciaram o desmatamento para dar lugar à pecuária e ao cultivo da soja.

A construção da Transamazônica e de outras estradas facilitou o acesso à região de madeireiras e garimpeiros. A cada ano, dezenas de milhares de fazendas aumentam suas áreas através de roçadas e de fogo, devorando a floresta e destruindo gradativamente os territórios indígenas das vizinhanças.

Desde 2019, o desmatamento da Amazônia está se acelerando com a desestruturação dos órgãos de fiscalização e flexibilizações legais. A exceção está nos territórios indígenas e nos parques nacionais, onde a proporção de floresta desmatada é mínima por conta dos cuidados e das culturas dos povos originários.

Estima-se que cerca de 20% da floresta já esteja extinta e há a preocupação de que o desmatamento em breve chegue a um ponto sem volta. Aquele em que o bioma não será mais capaz de se regenerar e onde vastas extensões de floresta se transformarão em savanas tropicais.

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