O corpo mente

O corpo mente para a gente, e a gente mente para ele. No fim, está todo mundo se enganando, e isso afeta até decisões importantes na sociedade

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

09/07/2025
O corpo mente Adobe Stock/NBE

3 min de leitura

Você já parou para pensar que nem tudo o que sente, lembra ou acredita é, de fato, verdadeiro? Pois é, o corpo mente, e o cérebro também. Pior, nós também mentimos para eles! Essa dança de enganos entre corpo e mente não é só curiosa, ela molda nosso comportamento, influencia nossas escolhas e até interfere nas decisões da sociedade. O que parece simples percepção ou intuição pode, na verdade, ser ilusão. Vamos entender como tudo isso funciona?

Lembre dos efeitos placebo e nocebo. No placebo, o cérebro acredita que uma pílula de farinha é remédio de verdade, libera endorfinas e alivia a dor. No nocebo, ocorre o contrário, a pessoa espera reações adversas e as sente, ainda que tome apenas farinha. Como podes ver, é fácil enganar o nosso cérebro, além disso, ele adora exagerar. Quando ouve um barulhinho suspeito, já aciona o modo pânico, imaginando que é um ladrão arrombando a porta, e dispara o coração, contrai o abdômen ou hiperventila, antes de descobrir que era só um gato derrubando um vaso.

Mas o corpo também sabe muito bem enganar o cérebro. Você já ouviu falar na “dor fantasma”? A pessoa perde um braço ou uma perna e continua sentindo dor naquela parte que nem existe mais. É que o cérebro ainda acha que está tudo ali, o mapa corporal não foi atualizado, tipo GPS sem sinal. Mas não é só isso, apesar de todo o desenvolvimento do cérebro, ele ainda pensa que a gente vive nas cavernas. Ele quer estocar comida, economizar energia e está sempre ligado com medo de que um tigre apareça a qualquer momento, por isso, odeia dieta!

Haja estômago

Já o estômago é o mestre da enganação. Sabe por que o medicamento Mounjaro funciona? Esse medicamento é indicado para diabéticos e auxilia na perda de peso. Mesmo que a pessoa tenha comido só uma folha de alface, o estômago informa ao cérebro “já basta, estou satisfeito”, reduzindo assim drasticamente o apetite. O dia em que o cérebro descobrir esta manobra, vai cancelar o emagrecimento na hora!!!

E a gente também engana os dois. Sabe quando você lembra daquela viagem incrível e esquece os perrengues? Pois é, cada vez que a gente conta uma história, o cérebro dá uma “editada”. Desta forma, as novas versões vão se tornando mais distantes dos fatos originais, tudo isso é involuntário. Já o corpo, é um preguiçoso, quando você pensa em se exercitar, ele faz de tudo para te boicotar. Manda dor, se contrai todo, só para ver se você desiste. Mas se você insistir com jeitinho, alonga aqui, aquece ali, conversa com ele, vai conquistando a confiança e os músculos vão cedendo. Se dependesse da vontade do corpo, ele passaria o dia todo deitado, só faria algum esforço para se alimentar e para transar. Eu não tiro a razão dele!

Por fim, esta enganação toda não se restringe ao nosso corpo e ao cérebro, pode ter impactos importantes na sociedade. Um estudo nos EUA analisou pedidos de liberdade condicional: em média, apenas 35% eram aprovados, mas logo após as refeições esse índice saltava para 65% e, pouco antes dos juízes se alimentarem, despencava a quase zero. Ou seja, às vezes, quem decide seu destino não é a lei… é o estômago do juiz!

Então, da próxima vez que seu corpo se assustar com um barulho, sua memória só guardar o lado bom de uma história ou você achar um remédio mágico… respire fundo. Talvez seja só mais uma peça que mente e corpo estão te pregando.

Duvidar faz bem! Entender essas pequenas mentiras é o primeiro passo para viver com mais consciência. Afinal, a mágica só perde o encanto quando descobrimos o truque.

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Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento é professor na escola de Administração da UFRGS.

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