Conheça a trilha sonora da concentração
O gênero que combina elementos do jazz e do hip-hop para te ajudar a relaxar

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Você já ouviu falar em Lo-Fi? O nome pode parecer estranho à primeira vista, no entanto, o gênero acumula mais de um bilhão de reproduções no YouTube e serve como uma espécie de terapia coletiva à distância para estudantes e outras pessoas que buscam melhorar a concentração e reduzir o estresse.
O que é Lo-Fi?
Na produção musical, low fidelity surge em oposição ao high fidelity – reprodução de alta qualidade, captando tanto sons graves como agudos de maneira equilibrada, sem distorção e ruído. Ou seja, no Lo-Fi, elementos normalmente considerados imperfeições (como interferência ambiente, chiado de fita e características analógicas) não só estão presentes, como são escolhas estéticas deliberadas.
Embora não possa ser determinada de forma definitiva, sugere-se que a popularização do gênero surgiu com o programa Low-Fi, da rádio norte-americana WFMU, que apresentava unicamente produções musicais caseiras enviadas por correio durante a década de 1980. Com o surgimento dos computadores, surgiu a noção de “música de quarto”, onde artistas independentes produziam suas próprias músicas e as publicavam online, agrupando-as, também, sob o rótulo do Lo-Fi.
Como o Lo-Fi reuniu milhares de pessoas em busca de concentração?
Também no YouTube, conteúdos de “ruído branco” – sons de chuva, ondas do mar e chiados, por exemplo, sintonizados na mesma frequência sonora – possuem milhões de reproduções e são utilizados para mascarar sons externos desagradáveis e inconsistentes. O Lo-Fi reúne não só tais sons constantes, como ainda batidas suaves e repetitivas, que criam um estado de “fluxo” e proporcionam um ambiente sonoro confortável e não-distrativo.
Por utilizar melodias com influência de gêneros como jazz e hip-hop, principalmente, muitos canais utilizam o termo Lo-Fi Hip-Hop em seus vídeos. O mais famoso deles é o Lo-Fi Girl, que, sob o desenho de uma garota estudando em um ambiente aconchegante, reproduz músicas em lives que chegam a durar 100 horas.
Com 15 milhões de inscritos, o canal oferece transmissões musicais ininterruptas com chat aberto aos espectadores. Sendo assim, ouvintes de qualquer lugar do mundo podem conversar entre si enquanto escutam o Lo-Fi.
Imagem: Reprodução YouTube Lo-Fi Girl
Entre os ouvintes está o estudante universitário e autodidata em programação, Rafael Vacari, que utiliza a música para criar uma espécie de “ambientação mental” como auxílio aos estudos. “A música Lo-Fi traz vida às tarefas, porque cria um ambiente calmo e sereno para te acompanhar, mas sem sons indesejados e distrações”, afirma.
E já existe base científica. Um estudo publicado no Journal of Cognitive Enhancement, que analisou como músicas instrumentais podem auxiliar no foco, revelou que estudantes expostos a gêneros musicais relaxantes têm melhor performance e menos lapso de atenção quando comparados àqueles que estudam ao som ambiente.
Quanto às mudanças fisiológicas, o estudo registrou um aumento nas atividades do sistema parassimpático, responsável por regular as funções corporais. De acordo com a psicóloga Andressa Rodrigues, isso ocorre devido à constância da música. “Ritmos mais lentos e repetitivos, como o Lo-Fi, podem ativar respostas fisiológicas ligadas ao relaxamento, diminuindo a frequência cardíaca e trazendo sensação de calma, o que pode ajudar no manejo do estresse”, esclarece.
A sensação de companhia, promovida pelos chats abertos e comunidades criadas em torno do Lo-Fi, desempenha um papel adicional para pessoas em busca de relaxamento. Durante a pandemia, quando ocorreu o boom do gênero, os vídeos viraram ponto de encontro para quem tentava aliviar o estresse do lockdown. “Eu e muitas pessoas conhecemos as músicas pelo Lo-Fi Girl, que na época servia mais como uma rádio compartilhada”, lembra Rafael.
Embora os acessos tenham diminuído com o retorno à “vida normal”, o Lo-Fi ainda possui uma comunidade fiel e que, apropriando-se dos benefícios, acompanha as músicas com frequência. Em 2024, anos após o início da pandemia, 40 mil pessoas estiveram conectadas em uma transmissão simultaneamente.
É importante lembrar que, com o avanço das inteligências artificiais, músicas produzidas por máquinas estão invadindo as plataformas. O YouTube exige que os usuários sinalizem vídeos com IA, mas nem sempre isso acontece. Por isso, busque conteúdo de canais confiáveis e produzidos por artistas reais.
Potencializando o efeito Lo-Fi
O Lo-Fi ainda pode ter seus benefícios potencializados se aliado a outros hábitos que promovem o bem-estar físico e mental, levando à melhora na capacidade de concentração e no relaxamento. Andressa separou dicas adicionais para os leitores do Nosso Bem Estar:
- Pausas programadas: realizar intervalos durante uma tarefa permite que o cérebro obtenha o tempo necessário para absorver informações e descansar para prosseguir ou realizar novas atividades. Um método bastante conhecido é o Pomodoro, que divide o trabalho em quatro blocos de 25 minutos, com 5 minutos de pausa entre eles. Ao final dos blocos, é realizada uma pausa maior, de 15 a 30 minutos. Assim, previne-se o esgotamento e a sobrecarga.
- Ambiente organizado: bagunça e acúmulo de materiais desnecessários causam distração, capturando o foco da tarefa inicial. Mantenha no seu espaço de estudo e trabalho apenas o necessário.
- Atividades físicas: a prática regular de atividades físicas atua na neuroplasticidade cerebral, aumentando a capacidade do cérebro de formar novas conexões neurais e absorver o aprendizado. Além disso, libera hormônios como a endorfina, que melhoram o humor e aumentam a motivação.
- Sono de qualidade: o córtex frontal do cérebro, responsável por funções cognitivas como memória e atenção, é restaurado durante o sono. Uma noite mal dormida não só impacta seu funcionamento, como eleva os níveis de agitação utilizados pelo corpo para repor energia, dificultando o alcance da concentração plena.
Quer testar? Pesquise por “Lo-Fi” no YouTube ou outras plataformas de streaming e experimente juntar hábitos saudáveis com uma estratégia que, ao mesmo tempo, é tão antiga e moderna: ouvir música.