Histórias que curam

Histórias transformam-se em remédio

Redação NBE

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02/06/2020
Histórias que curam Adobe Stock/NBE

5 min de leitura

Por Simone Corso*

As histórias de tradição oral vêm de muito longe e são fonte de conhecimento e sabedoria. Elas retratam a trajetória da humanidade e a experiência vivida pelos nossos ancestrais.

Os contos são como bálsamos medicinais. Há um poder imenso de cura que está escondido nas sequências de palavras. Palavras estas que, quando juntas, transbordam possibilidades. Através da contação de histórias, arquétipos de personalidades e comportamentos vão encontrando um lugar na nossa mente e nos ajudam a verificar, de uma posição privilegiada e segura, outras alternativas para nossa própria história. Arquétipos são uma tendência de comportamento inato a toda humanidade.

Para a psicanalista Marie Louise Von Franz os contos são a expressão mais pura e mais simples dos processos psíquicos do inconsciente coletivo, pois eles representam os arquétipos de forma plena e concisa. No trabalho psicoterápico, as imagens dos contos servem para ilustrar situações de vida pelas quais as pessoas passam. Muitos se identificam com determinada situação ou personagem levando a uma compreensão do que deve ser feito no momento.

A linguagem simbólica dos contos possibilita que a psique se manifeste. O conto é vivido como personificação de formações da mente, pois usa a mesma linguagem do inconsciente. A contação de histórias reaviva conteúdos inconscientes, como sentimentos escondidos ou desconhecidos, possibilitando sua integração na consciência e assim apontando o caminho para a resolução de conflitos.

Sábio inconsciente

Segundo Carl Gustav Jung, muitas de nossas decisões e escolhas têm origem no inconsciente e em motivações que não compreendemos por não termos consciência delas. Quanto menos conscientes disso, mais emaranhados ficamos neste inconsciente e menos compreendemos o que nos acontece.

Para Jung o inconsciente é a nossa parte mais sábia, que conhece exatamente o caminho a ser seguido. Segundo ele, este inconsciente contém a base dos nossos pensamentos e atitudes conscientes e todas as respostas que precisamos para nos guiar. Além disso, o inconsciente capta as experiências vividas e tudo que ouvimos e experimentamos que fica registrado em um nível subliminar.

Jung acredita que o inconsciente não é apenas um depósito de experiências ruins e traumáticas nem de desejos reprimidos, mas também uma parte sábia de nós mesmos que contém muitas informações importantes sobre nossa vida e sobre quem somos. Na visão de Jung, uma vida em equilíbrio depende da interligação entre consciente e inconsciente. Quando isso não acontece, surgem as doenças, os distúrbios, problemas e desequilíbrios.

Assim, os contos podem ser usados, de forma terapêutica, como mediadores entre o mundo interno e a realidade externa do paciente, sendo, ainda, uma possibilidade de intervenção no seu processo de desenvolvimento. As imagens do conto acordam, revelam, alimentam e instigam o universo de imagens internas que, ao longo de sua história, dão forma e sentido às experiências de uma pessoa no mundo.

A Contoterapia é uma ferramenta terapêutica que através dos arquétipos das histórias traz insights valiosos para os pacientes que se submetem a este processo. Ela auxilia na resolução de questões emocionais, na cura de traumas e dificuldades na vida, mostra novas posturas e incita à mudança.

Os movimentos gerados pelo conto, através do raciocínio e da elaboração, fazem a pessoa entrar em contato com seu próprio processo de crescimento, incentivando a busca por soluções que já constam no seu organismo, porém estão escondidas por alguma dificuldade da sua história.

Através das histórias, escolhidas de acordo com o assunto a ser trabalhado, questões de difícil resolução vão sendo abordadas, oferecendo um novo olhar para a dificuldade de cada um. Ao oferecer outros pontos de vista em um trabalho terapêutico, o conto fortalece na pessoa a capacidade de tomada de decisão. Inclui um novo estímulo no seu processo de pensamento que ajuda a encontrar novas respostas para questões que, muitas vezes, estão “em aberto” há muito tempo em sua vida.

Mulher desenhando um lobo

La Loba

A Contoterapia surgiu através dos contos do livro “Mulheres Que Correm Com os Lobos”, da psicanalista americana Clarissa Pinkola Estés. Neste livro a autora aborda arquétipos da identidade feminina. Desta forma, as mulheres são presenteadas com novas informações e percepções que as liberam de expectativas frustradas e as colocam em rota de encontro com sua verdadeira força criativa.

São histórias que auxiliam a mulher a identificar e lidar com as adversidades; a promover um crescimento interno; descobrir seu próprio caminho e as potencialidades não desenvolvidas.

Com os contos da Dra. Clarissa consegui dar nome aos meus problemas e olhar com carinho para cada dificuldade que eu passava. Ganhei autoridade na minha vida, nas minhas ações e na minha fala. Foram muitos aprendizados! Aprendi com La Loba que não devemos desperdiçar nada daquilo que para nós é importante.

Com o Barba Azul percebi que sou responsável quando permito a aproximação de coisas danosas a mim, e assim pude demarcar meu território. Com Vasalisa tenho aprendido a lidar com a luz poderosa da consciência e a dar um passo de cada vez.

Com os sapatinhos vermelhos recebi uma poderosa orientação: quando somos roubados é preciso fazer a coisa certa para não perdermos o que nos resta, e aí sim tentar recuperar o que nos foi tirado. Com o Patinho feio encontrei minha turma e assumi minha identidade. Com o Urso da Meia-Lua aprendi a ter a raiva certa. Com a Mulher dos Cabelos Dourados aprendi como "sonhos mortos" ainda tem força e vida.

Com a Donzela sem mãos olhei para as minhas limitações com gentileza e aprendi que podemos esperar encontrar graça e amor no Caminho das nossas buscas.

Sou muito grata por esse trabalho lindo! Voltei a sonhar sonhos antigos. Voltei a olhar para desejos profundos da minha alma feminina: amar, criar e curar. Foi para isso que nasci e é assim que honrarei a todos que vieram antes de mim.

­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­***Simone Corso é psicóloga clínica, contoterapeuta e consteladora familiar**

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