Reflexões sobre um Planeta febril
O que o inverno gaúcho tem a ver com os incêndios no Hawai?
3 min de leitura
O Dia da Sobrecarga da Terra é a data do ano em que a demanda da humanidade por recursos naturais supera a capacidade do planeta de produzir ou renovar esses recursos ao longo de 365 dias.
A última vez em que o Dia da Sobrecarga da Terra ocorreu em final de dezembro foi em 1972. Após esse ano, os recursos naturais da Terra passaram a se esgotar em menos de um ano.
Em 2019, esse dia foi em 29 de julho. Em 2020, por conta da redução das atividades humanas no período da pandemia, o prazo foi dilatado para o dia 22 de agosto. Constatar isto na época acendeu uma luz de esperança de que a humanidade estivesse aprendendo a preservar mais.
Mas em 2021, o dia voltou a acontecer mais cedo, em 29 de julho e, em 2022, foi 28 de julho.
Em 2023, tivemos um pequeno ganho de tempo e o dia foi parar em 2 de agosto. Termos a capacidade de regeneração dos recursos naturais calculada para o início de agosto, significa dizer que, - de maneira global - para atender os padrões de consumo atuais da humanidade precisaríamos de 1,7 planeta Terra, com a expectativa de chegar a dois planetas até 2030.
O Brasil não foge à regra. Se toda a humanidade tivesse o mesmo padrão de consumo da população brasileira, o Dia da Sobrecarga da Terra aconteceria no dia 12 de agosto. Mas alguns países conseguem tornar o quadro ainda mais grave. Conforme seus os padrões de consumo, a Itália atingiu o Dia de Sobrecarga em 15 de maio. Para que todos pudessem ter o padrão de consumo dos Estados Unidos, seriam necessários cinco planetas por ano. Se alguém ainda tem alguma dúvida sobre os impactos negativos das atividades humanas sobre o meio ambiente basta dar uma olhada na sucessão de eventos climáticos que vêm ocorrendo em todos os cantos desta Terra redonda: ciclones, incêndios, enchentes e secas. Sim, eles sempre ocorreram, mas a intensidade e a frequência aumentaram muito, segundo indicam todos os institutos climatológicos.
O mês de julho de 2023 é apontado pelo Observatório Copernicus, uma divisão do programa espacial da União Europeia, e confirmado pela Nasa, programa espacial dos EUA, como o mês mais quente em "centenas, senão milhares de anos”. Neste mês, vários recordes diários de temperatura foram quebrados, de acordo com as ferramentas de monitoramento da União Europeia e da Universidade de Maine, nos Estados Unidos, que combinam dados terrestres e de satélite. Estudos científicos culpam esse efeito à mudança climática, causada pelo homem na queima de carvão, petróleo e gás natural.
Os dados dos institutos apontam que o mês de julho foi 1,5 graus Celsius mais quente do que nos tempos pré-industriais. Os oceanos do mundo estavam 0,5 ºC mais quentes do que nos 30 anos anteriores e o Atlântico Norte estava 1,05 ºC mais quente que a média. A Antártida estabeleceu recordes de gelo marinho, 15% abaixo da média para esta época do ano.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no Brasil julho foi o mês mais quente já registrado desde 1961, quando iniciaram as medições. A temperatura média do país ficou 1,04°C acima da média histórica.
Desde o surgimento do Homo sapiens, há (talvez) 250 mil anos, podem ter vivido neste Planeta algo em torno de 108 bilhões de pessoas. Somos hoje cerca de oito bilhões de moradores na Terra. Nos últimos 200 anos – em apenas três gerações - fomos responsáveis por uma dívida ecológica sem precedentes.
“Tudo o que se faz à Terra, se faz também aos filhos da Terra”, já ensinavam os indígenas. Não sabemos se ainda temos tempo para reverter a febre do nosso Planeta, mas não podemos deixar de tentar.
O que não dá é para continuar vivendo como se nada estivesse acontecendo.
- Leia também: