Mulheres e Homens 60+, a economia prateada
Sociedade precisa amadurecer para lidar com naturalidade e respeito

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Marta Schlichting e Carmen Carlet*
A terceira idade tem movimentado fortemente os negócios - seja pela chamada “economia prateada” que já computa R$ 1,6 trilhão por ano, segundo o Sebrae, ou pelo surgimento de empresas voltadas à saúde, bem-estar e, sobretudo, para oferecer lazer a esse público.
A consultora em longevidade, Karen Garcia de Farias (55 anos), trabalha com diferentes projetos voltados para a terceira idade. Ela conta que teve seu primeiro contato com a velhice quando, junto com os irmãos, começou a cuidar da mãe.
“As necessidades e dificuldades que vínhamos enfrentando fizeram ir além da árvore e perceber a floresta. Dali em diante, apesar de não ter formação em gerontologia, comecei a estudar e conviver com profissionais e ambientes da área do envelhecimento e da longevidade”, explica a criadora do Sessentônica - @sessentonica.
O projeto tem o propósito de discutir o que queremos ser nesta fase da vida, auxiliando a preparação do futuro, sem preconceitos e rótulos.
Karen também é embaixadora do Lab60+ - @movimentolab60mais - , um movimento colaborativo, propositivo e que busca promover a intergeracionalidade, o protagonismo sênior e o empreendedorismo no ecossistema da longevidade.
Até antes da pandemia, o Lab60+ realizava os eventos presencialmente. Deste então, o coletivo se reinventou e passou a realizar atividades on-line de forma gratuita e abertas a pessoas de todas as idades.
Ligados e conectados
A presença digital também cresce entre os idosos. Uma pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com a Offer Wise Pesquisas mostra que, em 2021, 97% das pessoas com mais de 60 usaram a rede. Este público busca, em sua maioria, informações sobre economia, política e outros assuntos.
Contatar com outras pessoas é motivo para 61% deles e 84% usam o smartphone para acesso. Fazer compras pela internet é o formato preferido por 49% do público, de acordo com a Multinacional de Tecnologia, VTEX.
As redes sociais também fazem parte do dia a dia dos mais velhos, com destaque para o WhatsApp (88%), Facebook (65%) e Instagram (48%), conforme a pesquisa Hype50+.
Flertando com os palcos
Aposentado há sete anos, Jorge Guimarães (73 anos) trocou a representação de medicamentos pelos palcos.
Ator amador, Jorge - que adotou o sobrenome Praiana, por conta da famosa escola de samba de Porto Alegre - é natural de Sergipe, mas se considera gaúcho pelo longo tempo no Rio Grande do Sul.
Ele conta que desde criança se interessava pela arte da interpretação. “Depois, comecei a sair na escola de samba que é um grande teatro a céu aberto, onde cada um é um ator”, acrescentando que também gosta de cantar e arrisca uns acordes no cavaquinho e no pandeiro.
Seu flerte com os palcos começou com o grupo de teatro amador formado pela professora Carmen Soares em um projeto da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Ela convidou pessoas acima dos 60 anos para participar”, explica Praiana, destacando que já participou de cinco peças, entre elas O Doente Imaginário, de Molière.
A experiência abriu as portas para a criatividade do ator que dirigiu um musical sobre a vida de Lupicínio Rodrigues: “convidei pessoas com idades entre 60 e 82 anos e sem experiência”.
Defensor da ideia de que sonhos não têm idade, o ator adianta que está pensando em escrever uma peça sobre o sentido da vida, que às vezes tem momentos de drama, de comédia, mas é, sobretudo, um espetáculo.
Meditação como cura
Ao se descobrir com um câncer de mama aos 40 anos, a magistrada e Juíza de Direito, Márcia Eliz Endres (60 anos) abandonou a toga e se aproximou da cultura oriental, onde encontrou a meditação como instrumento de cura.
Hoje, está à frente do projeto Meditação Para Todos - @meditacaoparatodos, criado em 2017 em Canela/RS e disponível gratuitamente.
“Meditar é aquietar o corpo, a fala, a mente e o coração. Por isso, a prática traz inúmeros benefícios para a saúde, bem-estar, equilíbrio e serenidade. Com a meditação você se conecta e se transforma e, quando você se transforma, você transforma o mundo a sua volta”, fala com entusiasmo.
Márcia Eliz Endres explica que, com o tempo, o número de participantes foi aumentando e parcerias foram surgindo, o que possibilitou ampliar locais e horários. Hoje, já são 200 pessoas que interagem via WhatsApp e agora também pelo Telegram, onde se encontra grande parte das meditações guiadas. Para este ano, a expectativa é voltar aos encontros presenciais, sempre mais ricos nas trocas.
A reinvenção das pessoas de terceira idade é uma aposta na vida que requer, também, o amadurecimento de toda sociedade para lidar com o envelhecimento com a naturalidade e respeito que merece.
Fotos: Arquivo pessoal
*Marta Schlichting e Carmen Carlet são jornalistas e atuam na CCMS Multicomunicação
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