Candidíase de repetição e alimentação

A candidíase é uma infecção causada pelo crescimento descontrolado do fungo Candida albicans, favorecido pelo desequilíbrio na microbiota vaginal da mulher.

Mas apesar de ser muito comum (normalmente esse fungo está presente no organismo de forma assintomática), a recorrência de episódios de candidíase pode se tornar um verdadeiro incômodo no dia a dia das mulheres, impactando diretamente a qualidade de vida.

Quando esse cenário se apresenta, torna-se necessário ampliar o olhar e ir além dos tratamentos convencionais. E é isso que uma série de estudos apurou, apontando a alimentação como um fator decisivo na prevenção e no controle da candidíase de repetição.

Em outras palavras: o que você come pode estar literalmente alimentando o problema. E para explicar melhor a questão, conversamos com a nutricionista da mulher Ana Júlia Rebellatto.

Em entrevista, ela compartilha informações importantes que ajudam a entender como certos hábitos alimentares podem influenciar diretamente o surgimento e a persistência dessa condição.

Acompanhe a reportagem e descubra quais escolhas ajudam a manter sua saúde íntima em equilíbrio:

NBE: Qual a relação entre alimentação e o surgimento recorrente da candidíase?

ANA JÚLIA REBELLATTO: A alimentação tem impacto direto na imunidade, saúde intestinal e no equilíbrio da microbiota vaginal. Quando a alimentação favorece o crescimento excessivo de fungos como a Candida Albicans, o risco de candidíase recorrente aumenta.

NBE: Quais alimentos devem ser evitados por mulheres que sofrem com a recorrência de episódios de candidíase?

AJR: Alimentos ricos em açúcar (doces, refrigerantes, suco de caixinha, sobremesas), farinha branca (pães, bolos, biscoitos, massas), bebidas alcoólicas, ultraprocessados (embutidos como o presunto, salgadinhos, bebidas lácteas com sabor) e gordura saturada em excesso devem ser evitados, pois fragilizam o corpo e o sistema imunológico, favorecendo os episódios da infecção.

NBE: Existe uma dieta específica ou protocolo alimentar que possa auxiliar na prevenção da candidíase de repetição?

AJR: Não existe uma dieta única. O ideal é adotar um padrão alimentar que fortaleça a imunidade e mantenha as microbiotas equilibradas, rico em vegetais, fibras, proteínas magras e grãos integrais. Algumas mulheres se beneficiam com uma redução temporária estratégica de carboidratos simples, mas como tudo na nutrição, a conduta deve ser individualizada.

NBE: O consumo de açúcar está ligado à proliferação do fungo que causa a candidíase? Por quê?

AJR: Sim. A Candida albicans fermenta o açúcar como fonte de energia. Dietas com excesso de açúcar alimentam esse fungo e criam um ambiente propício à sua multiplicação, dificultando o controle da infecção.

NBE: Probióticos naturais e alimentos fermentados podem ajudar no controle da candidíase?

AJR: Sim. Alimentos como kefir, iogurte natural ou kombucha contribuem principalmente para o equilíbrio da microbiota intestinal, “precursora” de boa parte da imunidade. Um corpo com boa imunidade tem um ambiente menos propício para a proliferação da cândida.

NBE: Existe alguma relação entre a adoção prolongada de dietas restritivas ou jejum e a vulnerabilidade em relação à candidíase?

AJR: Dietas muito restritivas ou jejum prolongado, se realizados sem orientação adequada, podem enfraquecer o organismo como um todo, o sistema imunológico e desregular a microbiota intestinal, abrindo espaço para infecções como a candidíase. A falta de nutrientes essenciais também compromete as defesas naturais do corpo.

NBE: Como a saúde intestinal influencia na recorrência da candidíase?

AJR: O intestino é “precursor” de grande parte do nosso sistema imunológico. Quando há disbiose (desequilíbrio da microbiota intestinal), a candidíase e outras infecções podem surgir mais facilmente. Manter o intestino saudável é essencial para prevenir infecções recorrentes.

NBE: Quais sinais ou comportamentos alimentares indicam que é hora de buscar ajuda nutricional para lidar com a candidíase?

AJR: Se a candidíase está acontecendo com frequência (quatro ou mais vezes em um período de um ano), é sinal de que algo no corpo está em desequilíbrio — e a alimentação pode estar envolvida. Outros sinais importantes para ficar atenta são: vontade constante de comer doces, inchaço abdominal frequente, intestino desregulado (prisão de ventre ou diarreia), uso recorrente de antibióticos, episódios de estresse intenso, baixa imunidade e dietas muito restritivas ou desequilibradas.

Nesses casos, a ajuda nutricional vai identificar e ajustar hábitos que estão favorecendo esse quadro de infecções recorrentes, além de fortalecer o intestino, a imunidade e a saúde como um todo!