A Agroecologia está em festa
Nos dias 25 e 26 de outubro, evento do Centro Ecológico comemora 40 anos difundindo preservação ambiental e justiça social

3 min de leitura
Em 1985 surgia no interior de Ipê (RS), então ainda distrito de Antônio Prado, o Projeto Vacaria, que se propunha a ser uma vitrine de experimentação e demonstração da viabilidade do plantio agroecológico. À frente do projeto estava a agrônoma Maria José Guazzelli, com o apoio da Pastoral da Juventude.
Dois anos antes, o Rio Grande do Sul se tornava referência para o resto do país graças ao esforço de ecologistas para a criação da Lei dos Agrotóxicos, que regulamentava o uso destes produtos na agricultura.
Tudo isto acontecia num cenário de apologia ao uso das “novas tecnologias” no meio rural, que incluíam pacotes de adubos e venenos e uma visão prioritária de monoculturas.
A ideia de plantar “no estilo antigo” encontrou forte resistência no meio rural daquela região da Serra Gaúcha, característico, na época, de uma agricultura familiar empobrecida e já com vários casos de doenças graves por conta do uso dos insumos químicos (venenos).
Protagonismo dos jovens
Foram os jovens, filhos de agricultores os primeiros a aderirem ao novo projeto de agroecologia, ainda que muitos precisassem ameaçar deixar o campo caso os pais não aceitassem as novas ideias. Provaram aos mais velhos que seria um “novo estilo antigo de plantar”.
Muitas destas histórias estão contadas nos livros Vozes da Agricultura Ecológica, de Laércio Meirelles, um agrônomo carioca que se bandeou para Ipê com a esposa, também agrônoma, para trabalhar no novo projeto de difusão da agroecologia, nos anos 80.
De lá para cá muita coisa mudou.
Ipê se converteu em cidade e na “Capital Nacional da Agroecologia”. A receptividade aos produtos orgânicos caiu nas graças do público e cresce a cada ano.
O Projeto Vacaria passou a se chamar Centro Ecológico - CE e suas ideias derrubaram muros e atravessaram fronteiras.Vários outros agrônomos aderiram ao projeto, que acabou atraindo também visitantes de muitas partes do país e do mundo para conhecer a reconversão da agricultura, os novos conceitos, o desenvolvimento de produtos como o Supermagro, um biofertilizante enriquecido criado por um produtor local, e as tecnologias sociais com metodologias participativas e socializadoras.
Mudança de cenário
Ao longo destes 40 anos, o CE foi fundamental para a formação de inúmeras associações de agricultores ecologistas, de cooperativas de consumidores de produtos ecológicos, de feiras ecológicas, de agroindústrias familiares rurais, além de ser protagonista na criação da certificação participativa dos orgânicos, no resgate de sementes crioulas e na consolidação de mercados locais para o consumo de ecológicos.
As próprias Feiras Ecológicas da Redenção, em Porto Alegre, - as maiores da América Latina – têm o dedo verde de CE, bem como dezenas de outras feiras ecológicas criadas com a assessoria do CE.
O Centro Ecológico contribuiu de modo decisivo na construção da agroecologia como alternativa concreta de produção e comercialização para milhares de famílias de pequenos agricultores no Brasil e na América Latina.
Agora é hora de agradecer e celebrar.
E há muito a comemorar.