Olhar indígena

Expressões pejorativas integram o cotidiano

Redação NBE

Redação NBE

12/04/2023
Olhar indígena © Wilfred Paulse

4 min de leitura

A linguagem é a mais primária manifestação cultural de um povo. Neste sentido, é justo que haja uma revisão na linguagem da sociedade ocidental sobre a forma de se comunicar a respeito dos povos originários.

Expressões pejorativas que desvalorizam a cultura e os saberes indígenas são legados de uma educação eurocentrista e/ou colonizadora.

O coletivo Quadrinistas Indígenas é uma das organizações com o objetivo de demarcar os territórios das narrativas gráficas, criando histórias que falem das suas vivências como indígenas aldeados e urbanos, descolonizando pensamentos e conceitos que grande parte da população possui sobre povos originários.

Nada sobre nós, sem nós. Não precisamos e nem queremos que falem por nós e das nossas narrativas, sem nós. Queremos espaços para que nossas vozes e nossas lutas sejam escutadas. Não queremos ver esteriótipos e visões reducionistas de nossas cosmovisões desenvolvidas por não-indígenas. Queremos mais oportunidades para que indígenas em diversos territórios possam desenvolver e publicar suas histórias.

A orientação para toda a sociedade é uma maior atenção para com termos racistas e expressões depreciativas sobre os povos originários que precisam ser mudadas no vocabulário.

Mudança de linguagem

Conheça algumas expressões que devem ser abandonadas, conforme levantamento realizado pelo site Plural Curitiba:

Descobrimento do Brasil

O Brasil, evidentemente, não foi descoberto. Já havia milhões de povos nativos vivendo em terras brasileiras antes dos colonizadores chegarem. No processo colonizador, essas populações foram dizimadas, junto de suas culturas, línguas e costumes.

Por isso, falar em “descobrimento” do país, além de equivocado é fazer referência à violência extrema cometida contra os povos originários e negros do Brasil.

Índio

Apesar de ser muito utilizado atualmente, o termo “índio”, quando empregado por pessoas não-indígenas, carrega um imaginário estereotipado e perpetua ideias trazidas pela colonização.

A antropóloga Gabriela de Carvalho Freire explica que o termo é associado à chegada dos europeus no Brasil. “Eles chegaram aqui e acharam que estavam nas Índias, por isso chamavam a população originária de ‘índio’.”

Uma alternativa para o termo é utilizar a palavra “indígena”, que, segundo Gabriela, significa uma população originária, autóctone.

Moças indígenasMarcelo Camargo - Agência Brasil

Tribo

O termo “tribo”, segundo a cartilha dos Quadrinistas Indígenas, remete a uma ideia de uma população primitiva, sem organização ou capacidade. Além disso, carrega um imaginário depreciativo de estereótipos e preconceitos.

Por isso, é preferível utilizar o termo “povo” ou, para se referir a um local ou território “aldeia” ou “comunidade”.

Tupiniquim (como sinônimo de brasileiro)

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o povo Tupiniquim habita três Terras Indígenas em Aracruz, no norte do Espírito Santo. Atualmente, são cerca de 2.901 indígenas Tupiniquim no Brasil.

O termo Tupiniquim, no entanto, é comumente utilizado para se referir a algo nacional, por exemplo, ao invés de “cinema brasileiro”, utiliza-se “cinema Tupiniquim”. Conforme o ISA e a cartilha do Quadrinistas Indígenas, os Tupiniquim são um povo com especificidades e algo só é Tupiniquim se for produzido por eles.

“O uso do termo Tupinikim (ou Tupiniquim) como sinônimo de ‘ser brasileiro’ acaba apagando e trazendo difamação a toda uma cultura que resiste até hoje”, pontua a ilustradora do Quadrinistas Indígenas, Raquel Teixeira.

Tabajara (como sinônimo de algo falsificado ou ruim)

O povo Tabajara vive hoje em três estados brasileiros: Piauí, Ceará e Paraíba. São cerca de 2.881 indígenas. Utilizar o nome de um povo para designar algo negativo ou de má qualidade é uma forma de discriminá-lo.

“Quando são utilizado falas/termos que associam toda uma raça a questões pejorativas e negativas, depreciando a forma de viver, apagando ou revivendo estereótipos colonialistas, podemos considerar como violências aos povos indígenas. Ao evitar o uso de tais termos, podemos respeitar diversas etnias que já sofrem com políticas públicas pouco favoráveis à perpetuação de sua cultura”, diz Raquel.

Programa de índio

Comum no cotidiano das pessoas, a expressão “programa de índio” é outra forma de associar as populações originárias a alguma atividade ou evento considerado chato, entediante.

“Essa expressão também é uma forma pejorativa de olhar para os costumes indígenas, como se fossem coisas atrasadas e não interessantes”, afirma Gabriela.

Muito cacique para pouco índio

De acordo com a antropóloga, a expressão “muito cacique para pouco índio” se relaciona com o incômodo que as sociedades não-indígenas sentem com a forma de organização política das comunidades originárias.

“Geralmente, as populações indígenas se organizam de uma forma não tão centralizada como a nossa (com um Estado e algumas figuras que concentram a representação do poder). Elas não têm isso. Há uma divisão maior de poderes dentro da sociedade indígena. Essa expressão é uma forma preconceituosa que temos quando vemos a maneira de lidar com poder de um jeito diferente”, diz Gabriela Freire

Quem fala “mim” é índio

Existe uma ideia muito difundida entre a população brasileira de que os indígenas falariam usando o pronome “mim” seguido de um verbo no infinitivo. Por exemplo: “mim fazer”, “mim não comer”. Esse imaginário, inclusive, foi bastante repercutido em produções cinematográficas e desenhos animados (tanto norte-americanas quanto brasileiras) que representavam as populações originárias.

Atribuir essa construção considerada gramaticalmente errada pela norma culta da Língua Portuguesa aos povos originários é mais uma forma de discriminá-los.

Leia também:

Compartilhe

Redação NBE

Redação NBE

Nosso Bem Estar é uma rede de mídias com o propósito de ajudar você a viver bem, de forma natural, saudável e justa.

Também pode te interessar

blog photo

Poluição Plástica mobiliza sociedade civil e cientistas

Manifesto já assinado por 71 organizações pede compromisso e coragem do governo brasileiro para que efetive o Tratado Global Contra Poluição Plástica

Redação NBE

Redação NBE

blog photo

Vivacidade muda presidência e integrantes do conselho

Co-fundadora, Paula Valduga assume por dois anos, sucedendo Madeline Juber

Redação NBE

Redação NBE

blog photo

Artflor amplia ações para divulgar terapias florais

Nova diretoria da entidade planeja retomar os encontros regionais e ampliar inserção da terapia floral no âmbito do SUS

Redação NBE

Redação NBE

simbolo Bem Estar

Receba conteúdos que te inspiram a viver bem

Assine nossa newsletter e ganhe um universo de bem-estar direto no seu e-mail