150 anos da imigração no RS – Parte 1

Os imigrantes italianos começaram a chegar ao Rio Grande do Sul em 1875 para iniciar a nova vida. Mas a presença italiana no estado é ainda mais antiga

Sônia Storchi Fries

Sônia Storchi Fries

12/05/2025
150 anos da imigração no RS – Parte 1 Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami

4 min de leitura

Foto: Vindima nos parreirais da Vinícola Luiz Antunes & Cia. Autoria Giacomo Geremia.

A presença de cidadãos italianos no Rio Grande do Sul antecede a leva de imigrantes do último quarto do século XIX. Junto a uma população luso-hispano-indígena, eles participaram da gênese da formação sociocultural e espacial do Estado como cartógrafos, sacerdotes, artistas, arquitetos, revolucionários e desbravadores.

Como padres da Companhia de Jesus, eles estiveram presentes na criação das missões jesuíticas de Tapes e dos Sete Povos. Giuseppe Cataldino participou da formação da Redução São José. Domenico Zipoli, deixou Roma para trabalhar com os indígenas, ensinando-lhes música e a fabricação de instrumentos musicais. Giuseppe Brasanelli, arquiteto, escultor, pintor, traçou a planta e orientou a construção do aldeamento da Redução de Candelária, além de iniciar os aldeados na arte da escultura.

Inspirado na Igreja Gesù de Roma, o padre Gian Battista Primoli projetou e acompanhou a edificação da Igreja São Miguel Arcanjo, testemunho mais imponente da arquitetura jesuítica missioneira.

Nas demarcações de fronteiras, entre os cartógrafos e matemáticos, se destacam os nomes de Domenico Capassi, Bartolomeu Panigai, Francisco Róscio, que traçaram os mapas para as demarcações dos Tratados de Madri e Santo Ildefonso. Sebastião Francisco Bettamio andou pelos pampas, descreveu vilas, freguesias e apresentou sugestões para o trabalho nas estâncias.

Revolução Farroupilha

Na Revolução Farroupilha, dezenas de italianos compartilharam seus ideais e engajaram-se à causa farroupilha. Forçados a abandonar o seu país pela atuação no movimento “Giovine Italia”, associação criada por Giuseppe Mazzini cujo objetivo era tornar a Itália uma república democrática e unitária, encontraram refúgio no Brasil e, tão logo, aderiram ao projeto de construção da República Riograndense.

Foram quase seis dezenas de italianos que não hesitaram em lutar ao lado dos Farrapos em prol de um país republicano, livre da escravidão, das desigualdades e comprometidos com a liberdade, igualdade, fraternidade.

Entre eles: Giuseppe Garibaldi, comandante da Frota Naval Farroupilha, Tito Livio Zambeccari, secretário particular de Bento Gonçalves, idealizador do lema da bandeira rio-grandense “Liberdade, Igualdade, Humanidade”, Luigi Rossetti, editor do mais importante jornal da República Rio-grandense, O Povo.

Luigi Nascimbene acompanhou de perto os acontecimentos, financiou os farrapos e é autor da obra "Tentativa de Independência do Estado do Rio Grande do Sul", considerada o primeiro relato histórico do chamado decênio heróico, publicada em Paris no ano 1860.

Trabalhadores

Foto amarelada de Barracão dos Imigrantes da Colônia Caxias

Barracão dos Imigrantes da Colônia Caxias, construído em 1885. Neste local as famílias de imigrantes eram cadastradas e aguardavam a destinação dos lotes. Autoria não identificada. Acervo: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.

Dispersa em meios aos livros de registros, aparece outra classe de italianos em terras gaúchas. São comerciantes, artesãos, moleiros, sapateiros, funileiros, farmacêuticos, que se estabeleceram com seus pequenos negócios nos arredores de vilarejos e cidades.

Mas a entrada em massa de italianos no Brasil se insere no quadro das grandes transformações políticas, sociais, econômicas geradas pelo Risorgimento, movimento que buscou a unificação da Itália entre 1815 e 1870.

A unificação do país acelerou a transição do feudalismo para o capitalismo. As mudanças atingiram a estrutura agrária e o modelo artesanal de produção, trazendo o desemprego e a fome para milhares de italianos.

No campo, os tradicionais sistemas de cultivo e os contratos agrários não se adequavam ao novo modelo; nas cidades, as indústrias manufatureiras necessitavam de menos trabalhadores e exigiam habilidades que os artesãos e, tampouco, os camponeses possuíam.

Para sobreviver, os desempregados italianos buscavam trabalho nos cultivos e colheitas sazonais, nas obras públicas e privadas das cidades italianas e em nações vizinhas. Esses empregos temporários arrastavam centenas de trabalhadores a constantes partidas e retornos.

Por outro lado, no Brasil a oferta de trabalho era abundante nos cafezais e no Rio Grande do Sul o governo planejava continuar a obra de colonização na região da Encosta da Serra do Nordeste.

Os camponeses sem terra e os milhões de desempregados italianos tinham boas razões para emigrar e até confiar nas promessas que asseguravam a existência do paraíso no outro lado do Oceano Atlântico.

Entre 1874 a 1900, quatro milhões de italianos deixaram o país, mais de um milhão se estabeleceu no Brasil, desses, 84 mil escolheu o Rio Grande do Sul para iniciar a nova vida.

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Sônia Storchi Fries

Sônia Storchi Fries

Historiadora e pesquisadora. Especialista em história oral e uma das responsáveis pelo resgate e preservação do acervo documental do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, de Caxias do Sul - RS.

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