Futuro do Pretérito – Parte 2
E lá vamos nós, humanidade, para mais uma Conferência com passos de formiga e com pouca vontade de mudanças radicais
Tânia Rego/Agência Brasil4 min de leitura
Mudanças radicais exigem muita energia. Gastamos diariamente no Planeta impressionantes 16 trilhões de joules com as atividades humanas produtivas. Um joule equivale a um watt durante um segundo, mas honestamente só consigo dimensionar que isto é “muito”.
Paradoxalmente, usamos pouca energia pessoal para empreendermos as mudanças necessárias que possam nos desviar da rota de extinção no Planeta.
COP 30
Na COP 30 - Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – que acontece de 10 a 21 de novembro deste ano vamos ter uma amostra da energia humana para estas mudanças e quais serão os próximos passos da humanidade.
Melhor lugar não poderia haver. Belém do Pará é o portal da maravilhosa floresta Amazônia, que, juntamente com os oceanos, é hoje o fiel da balança do equilíbrio ambiental do Planeta.
Melhor país também não poderia ter. O Brasil é modelo mundial no uso de energias.
A matriz energética brasileira atual é baseada em 50% de fontes renováveis (hidráulica, eólica, solar, biomassa). Os outros 50% vem dos combustíveis fósseis, considerados os principais responsáveis pelo aquecimento global.
Ainda temos uma pequena parcela de energia nuclear, considerada limpa (?), mas não renovável.
Os índices globais no uso de energias renováveis não alcançam 20%.
E foram principalmente os impactos na atmosfera dos desmatamentos, dos incêndios florestais e do uso de combustíveis fósseis ao longo dos últimos 200 anos que nos trouxeram a esta encruzilhada: construção do futuro ou extermínio
A COP 30 marca os dez anos do Acordo de Paris, tratado internacional que uniu esforços para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
Não conseguimos alcançar a meta.
Os últimos 10 anos foram os mais quentes registrados na história. 2024 foi o primeiro ano completo em que a temperatura média global ultrapassou a marca de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
No Brasil vimos bem o significado disto. Inundações no Sul do país e secas prolongadas no Pantanal, no Cerrado e, pasmem, na Amazônia. Outras alterações climáticas severas, ventos, ciclones, chuvas de granizo, promoveram ao top trend a frase “nunca tinha visto isto na minha vida”.
E agora?
Às vésperas da COP 30, o presidente da Conferência, o brasileiro André Corrêa do Lago, publicou documento alertando para o fato de que “a adaptação climática deixou de ser uma escolha que sucede a mitigação”, tornando-se “a primeira parte de nossa sobrevivência”.
Mas para as urgentes “adaptação e mitigação”, a COP também vai precisar definir quem irá financiar esta mudança. Considera-se que os países mais poluidores ou com mais tempo de emissões de gases de efeito estufa devido às atividades humanas/industriais devam ser os principais financiadores para as necessárias ações de redução das emissões e resgate dos gases causadores das mudanças climáticas.
Vamos lembrar que o CO2 liberado pela queima de combustíveis fósseis ou pela queima permanece na atmosfera por séculos.
Mas ele não é o único vilão. Contribuem, em menor quantidade, mas com maior potencial, os gases metano (emitido por fontes como aterros sanitários, lixões, pecuária e produção de gás natural), óxidos nitrosos (produzido por atividades agrícolas, como o uso de fertilizantes e também pela queima de combustíveis e biomassa) e os gases fluorados (usados na indústria e com um potencial de aquecimento global muito elevado, sendo centenas a milhares de vezes mais potentes que o CO₂).
Ou seja, direta ou indiretamente, somos todos “contribuintes” do aquecimento global e isto exige o repensar de todo o nosso consumo pessoal e das condições de nosso bem-estar. O tempo todo. E de uma forma muito ampla.
Encerro esta reflexão com as palavras do mestre zen budista Tich Nhat Hanh, no livro Cartas de Amor à Terra- Editora Vozes.
“A menos que restauremos o equilíbrio no Planeta, continuaremos causando muita destruição e será difícil para a vida na Terra continuar.
Precisamos perceber que as condições que ajudarão a restaurar o equilíbrio necessário não vêm de fora, mas do nosso interior, da nossa própria atenção plena, de nosso próprio nível de consciência.
Nossa própria consciência despertada é o que pode curar a Terra.
...
Restaurando o equilíbrio dentro de nós mesmos, podemos começar a restauração do equilíbrio do Planeta.
Não há diferença entre a preocupação com a Terra e a que temos para conosco e com nosso próprio bem-estar.
Não há diferença entre curar o Planeta e curar a nós mesmos”.




