O farol da Simplicidade Voluntária

A busca de uma vida sustentável com mais humanidade e propósito.

Redação NBE

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10/12/2022
O farol da Simplicidade Voluntária Adobe Stock/NBE

5 min de leitura

A prática de uma vida despojada do excesso de bens materiais e voltada para a simplicidade e para a evolução do espírito foi o centro dos ensinamentos dos grandes mestres que pisaram neste Planeta.

No Cristianismo, Budismo, Confucionismo, Taoismo e tantas outras religiões/filosofias, a simplicidade e o desprendimento dos bens materiais estiveram presentes no exemplo de vida de seus mestres.

No século 20, o Oriente trazia à tona os ensinamentos de Mahatma Gandhi, que liderou a revolução indiana através da simplicidade e da não-violência.

No mesmo século, o Ocidente vivia o seu paradoxo.

Ao mesmo tempo em que cresciam nos Estados Unidos os templos de consumo (shopping centers) e era incrementada a cultura de produzir e consumir uma infinidade de novos produtos para, teoricamente, “simplificar a vida” de donas de casa e executivos, outros movimentos emergiam para alertar sobre os problemas dessa escolha. E para convidar pessoas ao retorno de uma vida mais simples.

Em 1936, o filósofo norte americano Richard Gregg introduziu o conceito de simplicidade voluntária em artigo publicado numa revista indiana. Em 1936, publicou o livro O Valor da Simplicidade Voluntária e suas ideias iriam influenciar inclusive o pacifista Martin Luther King Jr.

Nos anos 1940, o norte-americano Henry David Thoreau largou a vida da cidade e foi viver em meio à floresta de forma sustentável. Poeta, naturalista, ativista e filósofo, entre outras qualidades, Thoreau gerou livros e ideias que influenciariam gerações, o surgimento do Movimento Hippie nos EUA e no mundo, e líderes idealistas, como o próprio Gandhi.

Em 1981, também no país do consumo, o escritor norte-americano Duane Elgin publicava o livro Simplicidade Voluntária, cujas ideias são resumidas na expressão “é uma maneira de viver que é exteriormente simples e interiormente rica.”

Mulher em motohome digitando em notebook

Não é para todos

Diferentemente da pobreza, que é imposta, a “simplicidade voluntária”, é um estilo de vida escolhido e alicerçado em ideias e práticas de uma vida mais “slow”, mais humana e solidária e de menor impacto sobre o planeta.

Considera como fundamental ter as necessidades básicas asseguradas, mas que a vida deve ser voltada para o que é verdadeiramente essencial. Promove os valores da frugalidade material, o florescimento intelectual e a consciência da dimensão humana na ordem universal.

A Simplicidade Voluntária pode soar como um sacrilégio para muitas pessoas, especialmente as que adoram consumir ou que ancoram sua vida nos valores de bens materiais.

Para estes, a sugestão é experimentar a “aventura” de doar de coração, seja tempo, presença, conhecimento ou mesmo coisas/bens que não lhe servem mais.

Já existem diversas pesquisas científicas provando que os efeitos positivos no cérebro e no bem-estar são maiores para quem doa do que para quem recebe.

Talvez essa “aventura” possa ajudar a pessoa a encontrar dentro de si o que tanto busca fora através do consumo.

Mas, atenção! Independentemente das opções pessoais, os seres humanos precisam encontrar com urgência uma saída para o brete em que se meteram nessa emergência climática que ameaça a própria vida na Terra.

Isso tem tudo a ver com um jeito mais simples de viver.

Uma grande saída pode ser o exemplo e a sabedoria dos indígenas.

Viver em plenitude

Quando os colonizadores chegaram na América, por volta de 1500, encontraram por aqui seres humanos que reverenciavam a natureza, a vida simples, a liberdade, a pureza, o espírito de comunidade, a fraternidade, a solidariedade, o respeito à Mãe Terra e todos os seus habitantes.

A resistência dos povos originários da América nestes 520 anos para manter costumes, língua, cosmologia e a própria vida se reverte hoje em um farol para uma humanidade que se vê às voltas com os graves problemas causados pelo seu modo insustentável de viver.

Em novembro de 2022, a COP 27 – Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, tentou mais uma vez definir novos rumos para evitar que o aquecimento global causado pelas atividades humanas comprometa a vida no Planeta a curto prazo.

Os resultados ainda são pífios, mas alguns precisamos comemorar. O Brasil entra no ano de 2023 com o primeiro ministério dedicado aos povos originários e com políticas mais rigorosas sobre a preservação de florestas, fundamentais para deter a emergência climática.

Povos originários dos Andes

Muitas lições

Os povos originários da América Latina ensinam que somos filhos de uma mesma Mãe Terra, a Pachamama. Em outras palavras, pertencemos a uma comunidade mais ampla, que abrange todas as comunidades: a natureza.

A cosmologia indígena também tem muito a nos ensinar. Os andinos cultivam o conceito de "sumak kawsay", que, numa tradução livre significa “viver em plenitude” (sumak = plenitude; kawsani = viver).

O sumak kawsay se fundamenta em cinco princípios:

1) sem conhecimento ou sabedoria não há vida (Tucu Yachay);

2) todos surgimos da mãe terra (Pachamama);

3) a vida é plena (hambi kawsay);

4) a vida é coletiva (sumak kamaña);

5) todos temos ideais ou sonhos (Hatun Muskuy).

Teki Porã

Esse princípio de vida dos povos indígenas andinos tem correspondência na sabedoria indígena dos povos originários que habitam no Brasil.

Teko Porã é um termo em guarani que significa, literalmente, o “belo caminho”, ou o “bem viver”.

Para os Povos Indígenas, a natureza é quem dá sentido à vida. Como uma imensa teia, na qual tudo está interligado, tem o poder de nos mostrar o caminho de luz a trilhar em busca de sabedoria.

A professora indígena de Filosofia, Cristine Takuá, explica que Teko Porã é a representação da boa maneira de Ser e de Viver.

Toda essa complexa crise de relações que os humanos hoje estão vivendo nada mais é do que reflexos de séculos de uma caminhada mal feita que nos levou para o ‘Tekó Vai’, o Mal Viver. Ele está presente no consumo desenfreado e na esquisita mania de servidão voluntária onde muitos vivem escravos de seus quereres. Está presente nas guerras, no individualismo, na poluição dos rios, no empobrecimento, na depressão, enfim em diversas situações que colocam o ser humano numa incessante busca de Viver Melhor, na ilusão de que os bens materiais, o conforto e o luxo irão trazer a delicada e profunda satisfação da experiência que penetra no próprio ser e no estar quando se alcança o Bem Viver nas ações diárias da Vida.

  • Leia também:

Consumo Consciente & Simplicidade Voluntária

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