Você já aderiu à moda circular?
Brechós são alternativa à segunda indústria que mais polui no mundo

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Você já comprou uma peça de roupa por impulso, ou que não serviu, e nunca usou? O que só ocupa espaço no seu armário pode, na verdade, tornar-se a peça favorita de alguém – e para além disso, contribuir na redução dos impactos ambientais da indústria da moda. Na matéria de hoje, apresentamos a moda circular.
O que é moda circular?
No sistema atual, a produção de bens é feita a partir da extração de matérias-primas da natureza, processamento e, tão logo, descarte – muitas vezes realizado de forma inadequada e indiscriminada. Segundo levantamento da Global Fashion Agenda, mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis foram descartados nos últimos anos, tornando a indústria da moda a segunda mais poluente do mundo, atrás apenas da petrolífera.
Na América Latina, cerca de 39 mil toneladas de roupas são descartadas no deserto do Atacama por ano, formando um lixão a céu aberto que destoa das paisagens naturais. Já no Brasil, somente 20% das peças produzidas são recicladas ou reaproveitadas, gerando mais de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis anualmente.
Um dos caminhos para reduzir a poluição é adotar a economia circular, que prevê o retorno sustentável de materiais para o ciclo econômico e natural, prezando pela regeneração e redução de novas extrações. No contexto da moda, isso significa reutilizar e reinventar o consumo do vestuário, atribuindo novos significados a roupas previamente produzidas, em oposição à produção em larga escala.
O primeiro passo para aderir à economia circular é repensar os hábitos de consumo, analisando a necessidade e a procedência da peça que pretende adquirir. Assim, o indicado é optar por empresas que produzam com consciência ambiental. Ou, melhor ainda, lançar mão dos famosos brechós.
O que são brechós?
A origem da palavra “brechó” é popularmente conhecida por ser derivada da Casa do Belchior, loja de um comerciante português que se estabeleceu no Rio de Janeiro no século XIX. O local vendia artigos usados e, devido à dificuldade da pronúncia, teve seu nome reduzido e passou a ser conhecido simplesmente como brechó.
Atualmente, os brechós vão muito além da comercialização de roupas usadas. O upcycling, aderido por muitos, significa transformar peças através da customização, “criando” algo novo a partir de materiais já existentes.
Calça jeans vira bermuda, blusa vira cropped e peças desinteressantes ganham nova vida por meio da criatividade, costura e trabalho artesanal. Assim, não só o impacto da indústria têxtil no meio ambiente é reduzido, como roupas não utilizadas ganham valor e história.
Para Nathália Costella, proprietária e curadora do Odisseia Vintage, o destaque dos brechós é, justamente, a exclusividade. “No brechó você tem muito mais chances de encontrar peças únicas, com uma qualidade muito superior e com preço acessível”, afirma.
As roupas são apresentadas ao público prontas para vestir, mas, antes disso, acontece um criterioso trabalho por parte dos brechós. Para chegar a uma peça renovada, é feita uma curadoria que leva em conta diversos fatores.
Customização
“Priorizamos peças atemporais, que vão resistir por mais muitas décadas e com algum detalhe de design que a diferencie das demais. Na renovação, higienizamos cuidadosamente cada peça, removendo possíveis manchas e defeitos, além de customizar uma parcela das peças com pinturas e aplicação de metais, entre outras técnicas”, explica Nathália.
E não é necessário ir até o estabelecimento para adquirir uma peça nova. Na pandemia, os brechós online, como o Odisseia, apresentaram um crescimento massivo, possibilitando o consumo consciente mesmo em cidades tomadas por lojas de departamento.
No entanto, lembra a proprietária, ao optar pelo digital, é preciso ter atenção. “Hoje em dia existem muitos brechós falsos aplicando golpes. Pesquise bem, veja se tem avaliações de clientes reais, se o dono do brechó expõe a própria imagem e se é fácil de encontrar um número de WhatsApp. Outra dica infalível é entrar em contato com pessoas que comentaram nas publicações para saber se receberam as peças”, sugere.
Doe
Além de realizar compras conscientes, você também pode doar roupas que não usa, mas que estão em bom estado e podem ser reaproveitadas. Conforme apresentado,mesmo peças mais simples podem se tornar algo completamente novo.
Mantenha a moda circulando. Escolha dar um novo destino ao que, na sua vida, só ocuparia espaço – e na natureza nem se fala.