Inteligências humanas que inspiram e iluminam os caminhos
Algumas pessoas são faróis para orientar a atual jornada da humanidade. Aqui destacamos algumas mentes brilhantes

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Diz-se que a diferença fundamental entre a inteligência artificial e a inteligência humana é que esta última tem consciência de si mesma e do mundo ao seu redor.
Diante da atual realidade, por vezes fica difícil acreditar que a inteligência humana esteja sendo usada para o bem comum, mas sempre há mentes iluminadas que funcionam como faróis para orientar até mesmo as canoas furadas.
Como esta canoa que a humanidade embarcou ao usar combustíveis fósseis sem medida a ponto de alterar o clima da Terra e colocar em risco sua própria sobrevivência. Ou ao acreditar em valores que nos separam uns dos outros, da natureza e das forças espirituais.
Destacamos aqui algumas inteligências humanas que nos inspiram. Mentes brilhantes que iluminam os tempos atuais.
Louvado seja
Em 2025 comemora-se os 800 anos da composição do Cântico das Criaturas por São Francisco de Assis e os 10 anos da publicação da Encíclica Laudato Si (Louvado Seja) pelo Papa Francisco, que são documentos que lembram a humanidade sobre a importância de se integrar com a natureza.
Foto: Ricardo Stuckert
Ainda no hospital, em março de 2025, em tratamento de grave doença, o Papa Francisco mandou uma mensagem inspiradora que correu o mundo:
“Neste momento de doença, a guerra parece ainda mais absurda. A fragilidade humana, de fato, tem o poder de nos tornar mais lúcidos em relação ao que dura e ao que passa, ao que nos faz viver e ao que mata. Talvez seja por isso que, com tanta frequência, tendemos a negar os limites e a evitar pessoas frágeis e feridas: elas têm o poder de questionar a direção que escolhemos, como indivíduos e como comunidade.
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Enquanto a guerra apenas devasta as comunidades e o meio ambiente, sem oferecer soluções para os conflitos, a diplomacia e as organizações internacionais precisam de nova força vital e credibilidade.
As religiões, além disso, podem se valer da espiritualidade dos povos para reacender o desejo da fraternidade e da justiça, a esperança de paz.
Tudo isso exige comprometimento, trabalho, silêncio e palavras.”
Os sonhos de Pepe
O ex-presidente do Uruguai, agricultor, deputado e ativista contra a ditadura, Pepe Mujica, chamou a atenção do mundo com suas ideias e foi convidado para palestrar na ONU, no Japão e em vários outros países.
Foto: Protoplasmak/Flicker
Em seus últimos tempos de vida, já que foi diagnosticado com uma doença fatal em 2024, Mugica segue levando uma vida austera, dirigindo um fusca 1987 e plantando flores. Através do documentário “Os Sonhos de Pepe” segue falando ao mundo:
“Temos sacrificado os velhos deuses imateriais e ocupamos os templos com o Deus Mercado. Ele organiza a nossa economia, a política, os hábitos, a vida. E nos financia a aparência de felicidade em parcelas e cartões. Parece que nascemos só para consumir e consumir. E, quando não podemos, sentimos frustração, pobreza e até autoexclusão.
Somos felizes afastados da essência humana?
Me angustia muito o amanhã que não verei e com o qual me comprometo A minha geração sonhou e lutava – e continua sonhando e lutando – por um mundo mais justo, mais equitativo, mais igualitário em oportunidades, mais solidário, mais fraterno, porque acredita que – se o homem pode chegar a Marte ou à lua, tem a capacidade de criar uma sociedade melhor. Porque tem memória e consciência.
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Viemos para a vida tentando ser felizes. Porque a vida é curta e voa.
Não teremos um mundo melhor se nós mesmos não procurarmos nos melhorar. Não podemos mudar o mundo mas nós podemos mudar a nós mesmos.
Há necessidade de se viver como se pensa.
Quem não tem coragem para viver de acordo com o que pensa, vai terminar pensando da forma como vive."
Democracia da Terra
A física indiana Vandana Shiva é escritora, ecofeminista e ativista ambiental na luta internacional pela preservação da biodiversidade e defende o conceito da Democracia da Terra.
Foto: Wikipédia
“Todos nós somos parte da terra, filhos da Mãe Terra. Em termos ecológicos somos uma família terrestre com outras espécies como nossos parentes. Devemos cuidar delas e proteger seus direitos.
Esta é a Democracia da Terra: uma interconexão de toda a vida em interconexão. A diversidade cria liberdade através da unidade e da interconexão.
Unidade não é uniformidade.
A uniformidade fragmenta e divide. A uniformidade, quando imposta à diversidade, na natureza e na cultura, cria capacidade de expansão e extinção.
A Democracia da Terra é a liberdade de todos os seres, baseada em sua auto-organização e na simbiose.
Tem como horizonte de atuação o respeito aos direitos das comunidades locais em reivindicar um modelo de desenvolvimento sustentável que considere o bem-estar ecológico e cultural.”
O centro do mundo
Passando das ideias que vêm do Oriente para o Ocidente, a premiada jornalista gaúcha e ativista climática, Eliane Brum, protagonizou um dos momentos mais emocionantes da Bienal do Pensamento de Barcelona, em outubro de 2024, com sua fala em defesa da Amazônia, onde vive e trabalha.
Foto: Alberto César Araújo
“O centro do mundo é onde está a vida. Os centros do mundo são a Amazônia, os oceanos, as outras florestas tropicais, todos os biomas.
E não Madri, Whashington, Paris, Frankfurt , Nova York, Tóquio, Beijim.
Os centros do mundo é onde está a vida e não onde estão os mercados.
Isto significa colocar no centro outros valores.
Significa nos tornarmos outra linguagem.
A Amazônia centro do mundo não é retórica, mas possivelmente nossa única chance de garantir uma casa-planeta em que as novas gerações de humanos e não humanos possam viver.
Pensem no absurdo, no bizarro, no inacreditável que é uma minoria de humanos alterar o clima e a forma do planeta. E, mesmo diante das catástrofes que provocaram, ainda assim não pararam, mas seguem atacando o Planeta.
Sabem que estão nos matando e ainda assim seguem nos matando.
Não podemos nos entregar à paralisia da impotência.
Nem temos este direito diante das crianças que vão viver neste mundo.
Não podemos nos negar à ação.
Este é o negacionismo mais perigoso: o de saber o que está acontecendo, mas viver como se não soubesse.
Esperando a extinção chegar, sentado no sofá, jogando batalhas de ficção no computador.”
Revolução da Compaixão
Em 2017, quatro jovens youtubers franceses estiveram em Dharamshala, na Índia, para conhecer Dalai-Lama, Prêmio Nobel da Paz em 1989 e líder espiritual e político do povo Tibetano.
Foto: Yancho Sabev
Na conversa registrada pela escritora Sofia Stil-Rever, o Dalai Lama apelou aos jovens que eles sejam a geração das soluções, que se rebelem pela paz e façam a Revolução da Compaixão.
O encontro resultou no livro “Façam a Revolução: o apelo do Dalai-Lama aos jovens do século XXI”. Com profundidade, simplicidade e poesia, o mestre budista ensina caminhos e alerta:
“Vocês, jovens adultos, estão enfrentando conflitos ideológicos e religiosos.
Sofrem as injustiças do sistema econômico, que explora indiscriminadamente os recursos naturais, sem permitir que a delicada fonte da vida se regenere.
A única saída é fazer a Revolução da Compaixão, que dará um novo impulso à democracia, ampliando a solidariedade entre as pessoas.
Ponham compaixão no coração da humanidade, criando novos modelos de colaboração que unam as comunidades locais à comunidade mundial em rede.
Apostem na inteligência coletiva, que é a da partilha.
O mundo é a sua pátria e a humanidade sua família.
Pois, se vocês são a primeira geração da história a enfrentar a ameaça de extinção da vida no Planeta, são também a última que pode solucionar o problema.
Depois de vocês, será tarde demais. “