Trabalhar no que não gosta, mas ganhar bem

Qual a vida que vale a pena viver? O que precisamos para ser feliz?

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

04/04/2024
Trabalhar no que não gosta, mas ganhar bem Freepik/NBE

3 min de leitura

Conversando com os meus alunos, alguns manifestaram o desejo de trabalhar onde paguem melhor, mesmo que seja uma atividade que não lhes agrade. Eu questionei se essa vida valerá a pena. Eles responderam que, tendo grana no bolso, poderão comprar o que desejam, viajar nas férias etc. Fiquei com esta pergunta na cabeça: “qual a vida que vale a pena viver?”.

Resolvi pesquisar e fiz esta pergunta ao ChatGPT. Ele me respondeu que é aquela que traz significado, realização e felicidade para o indivíduo. Depois, listou algumas características comuns de uma vida que muitas pessoas consideram valiosas, como propósito e significado, relacionamentos significativos, saúde física e mental, crescimento pessoal e desenvolvimento, contribuição para algo maior que você mesmo e, por fim, equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.

Por fim, o ChatGPT concluiu sua resposta com a afirmação: “Uma vida que vale a pena ser vivida é aquela que ressoa com os valores, aspirações e necessidades individuais de uma pessoa, e que proporciona um senso de contentamento e realização pessoal”. Sabe que eu gostei da resposta dele! Mas o que seria realização pessoal e o que precisamos para ser feliz? Dinheiro para comprar o que queremos e poder viajar nas férias?

Sob o olhar dos filósofos

Continuando a pesquisa, joguei a mesma pergunta no Google e apareceu a palestra do Prof. Clóvis Barros Filho, quem eu admiro e já citei em minhas colunas. Nesta palestra ele responde à pergunta sobre o que tem que acontecer para a vida valer a pena, buscando o entendimento de grandes mestres.

Inicia citando Aristóteles, que entendia o sentido da vida como a busca da excelência em si mesmo. A pessoa que desenvolvesse os seus talentos, estaria buscando a perfeição e seria mais feliz. Depois citou Jesus Cristo, que pregou a entrega e o amor. O Prof. Clóvis contou o caso da sua filha, quando pequena, estava gravemente doente e ele pediu a Deus para trocar de lugar, que viesse para ele não só a doença da filha, mas de mais vinte outras crianças. O amor se sobrepôs à continuidade da sua vida. Na concepção de Jesus Cristo, a vida boa, a que vale a pena, é aquela que existe para tornar melhor a dos outros. Todas as profissões deveriam exercer sua atividade com este objetivo. Trabalhar seria “quebrar o galho dos outros”. O pagamento e o reconhecimento são consequências da confiança que o outro depositou no seu trabalho.

O terceiro mestre citado pelo Prof. Clóvis foi Spinoza, que fala da alegria e da potência do agir. Se a vida é energia, uma vida boa deve ter muita energia. Ao mesmo tempo, Spinoza chama a atenção para a humildade, pois o triunfo de hoje não garante o triunfo de amanhã. E por fim, Clóvis cita Jean-Jacques Rousseau, que destaca a liberdade e a fidelidade aos próprios valores. Segundo Rousseau, o homem comemora quando ele acerta o que ele poderia ter errado, pois ele decide o que viver.

O Prof. Clóvis considera que os quatro estão com a razão, pois a nossa vida será melhor se explorarmos os nossos talentos, se nos doarmos mais aos outros, se tivermos com quem comemorar, se conseguirmos nos alegrarmos e a nossa vida será melhor se decidirmos as coisas com inteligência e fidelidade.

Eu me identifico muito com a fala do Prof. Clóvis quando diz que a alegria do professor é ver o sucesso do aluno. Profissionais de outras áreas também podem se realizar com os resultados do seu trabalho. Porém, me entristece ver jovens talentosos escolherem profissões e empregos que “pagam mais” e fazer o que não gostam**. Me parece que eles não perceberam ainda que possuem uma só vida e que ganhar dinheiro fazendo o que não gostam, ao longo de onze meses para aproveitar durante um mês de férias, não é a melhor forma de realização pessoal e de ser feliz.** Estariam estes jovens desperdiçando as suas vidas ou isto seria um processo de aprendizado?

Publicado originalmente no Sler

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Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento é professor na escola de Administração da UFRGS.

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