O dia em que realizei o desejo do Papai Noel

O “verdadeiro” Papai Noel cumprimentou o Senhor Martins como quem reconhece um parceiro e, ainda que as línguas fossem tão diferentes, não foi difícil se entenderem

Vera Mari Damian

Vera Mari Damian

14/12/2023
O dia em que realizei o desejo do Papai Noel Vera Mari Damian

4 min de leitura

Era década de 1990, quando ainda praticávamos muito o exercício da presença e do olho no olho.

Fui convidada pelo editor de uma revista para fazer uma entrevista com um “senhor Papai Noel” que todos os anos dedicava seu tempo a reviver, em crianças e adultos, a esperança de receber uma recompensa por ter sido bom/boa naquele ano.

Quando comentei com amigos sobre este trabalho, fui surpreendida por uma enxurrada de pedidos espontâneos: “pede um namorado pra mim, um bilhete premiado da loteria, eu ficaria bem contente com um emprego novo...”

Mas afinal, Papai Noel existe de verdade ou não, perguntei?

“Existe para quem acredita”, resumiu o meu entrevistado.

“Os adultos, quanto mais ricos, mais pedem coisas materiais. Outros pedem apenas que o Natal seja bom. Eu mesmo, peço sempre para ter saúde, pois com saúde se consegue tudo”, ia discorrendo José Luis Martins, um uruguaio de nascimento que chegou a Caxias do Sul em 1943 para trabalhar como metalúrgico.

Depois de aposentado, se tornou um Papai Noel com olhos azuis, bochechas vermelhas e barba/cabelos brancos originais. Antes disto, sua vontade de andar pelo mundo lhe levou a aceitar convites para trabalhar na Argentina, no Peru e no México. “Ainda sem as renas”, brincou.

Tradicionalista convicto, ganhou título de peão de honra no CTG Paixão Cortes e a medalha de Melhor Contador de Causos de Galpão.

“Causo é uma mentira enorme de grande, mas inofensiva”, define José Luis Martins. E o que aconteceria na volta da minha entrevista poderia muito bem virar um “causo”, mas foi pura realidade.

Minha última pergunta a ele foi - qual seria o seu pedido de Natal para o Papai Noel?

- Eu tenho um sonho de conhecer o verdadeiro Papai Noel e pedir a ele uma credencial oficial para representá-lo aqui na minha cidade (Caxias do Sul). Já escrevi duas cartas para o Papai Noel da Lapônia, mas não tive resposta.

Na volta para o escritório, ainda enlevada pela ternura da pauta, recebo um fax – naquele tempo a internet ainda era precária – informando que, a convite da Secretaria de Turismo de Gramado, o “verdadeiro” Santa Claus estaria chegando nesta cidade por aqueles dias.

A missão

Não foi difícil convencer o editor da revista, Claudio Abreu, de que tínhamos agora uma missão: realizar o desejo do Papai Noel.

E lá fomos nós , cheios de expectativas, com o nosso convidado paramentado a rigor e portando uma “credencial” que ele mesmo havia criado com sua própria foto.

Em Gramado, o “verdadeiro” Papai Noel cumprimentou o Senhor Martins como quem reconhece um parceiro e, ainda que as línguas fossem tão diferentes, não foi difícil se entenderem.

Dois homens vestidos de Papai Noel juntos

Senhor Martins contou que morava uma cidade serrana no Sul do Brasil, que tinha um inverno rigoroso de até cinco graus negativos, onde ele era papai Noel há 10 anos.

O outro explicou que tinha saído de sua cidade na Lapônia, no Círculo Polar Ártico, há poucos dias, com 30 graus negativos e agora estava ali com quase 30 graus positivos. Contou que, anualmente, ele elege um país para uma visita oficial e que 1996 estava sendo o ano do Brasil.

- Assim como estou aqui, estou em todos os lugares na mente das pessoas. Tenho uma cidade onde moram as renas, minha primeira-dama e os duendes que me ajudam com os presentes e com as centenas de milhares de cartas do mundo todo. Agora volto para minha terra, porque o Natal está chegando e ainda há muito o que fazer”, explicou Santa Claus e se despediu, não sem antes realizar o desejo do “colega” gaúcho.

“Isto aqui é um sonho”, repetia extasiado o nosso Papai Noel com a credencial na mão assinada pelo “verdadeiro” Santa Claus.

Credencial assinada pelo Papai Noel da Lapônia

- Gostei que ele escreveu a punho, mesmo que seja em outra língua. Vou viver até os 115 anos e ainda quero visitá-lo na Lapônia, repetia emocionado para todos em volta. Foi então que ouvimos de uma pessoa presente a frase mais preciosa de toda esta história:

“O senhor merece. Plantou amor e está colhendo amor. Este é o verdadeiro sentido do Natal.”

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Vera Mari Damian

Vera Mari Damian

Jornalista, ambientalista e produtora cultural

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