Vivendo como nos anos 2000: a tendência agora é resgatar hábitos do passado
Cansado de Labubu, Bobbie Goods e tendências de consumismo? A moda do momento é finalmente útil: a desconexão
Freepik/NBE4 min de leitura
Do bate-papo UOL ao MSN, do Orkut ao Facebook, do Twitter ao Tiktok: as redes sociais mais acessadas mudam de geração em geração. Quem fazia amizades à distância nos anos 90 pode não entender como a comunicação evoluiu para conversas em vídeos, “duetos” e caixinha de perguntas, a menos que acompanhem de perto as evoluções tecnológicas.
Desde a pandemia, o Tiktok apresentou um enorme crescimento ao redor do mundo, especialmente entre os mais jovens – mas não pense que isso exclui os veteranos de internet. Na verdade, a moda agora é usar a ferramenta como no passado.
A #2000s conta com mais de 1 milhão de vídeos na plataforma. O sentimento de nostalgia – saudade do passado – é a raiz da maioria das publicações. Entre capturas de tela do MySpace, fotos de locadoras e IPods, surge um saudosismo ao tempo em que era possível se desconectar da internet apenas desligando o computador.
A trend “vivendo como em 2000” reúne hábitos que promovem a desconexão ou, no mínimo, reduzem a dependência das telas no cotidiano. Mas o que isso inclui?

Sem celular durante as refeições
De acordo com um estudo da revista Physiology & Behavior, o uso do celular durante as refeições contribui para o descontrole alimentar, provocando o aumento da quantidade ingerida e, a longo prazo, ganho de peso. A mastigação também sai prejudicada, pois a tela captura a concentração e leva-nos a engolir pedaços maiores, dificultando a digestão.
Além disso, a distração altera a percepção de sabores, texturas e aromas. Assim, o prazer de comer é relegado ao segundo plano.
Pessoas perto, telas longe
Quantas vezes a conversa foi interrompida por um som de notificação no celular de alguém? Quantas vezes deixamos de viver plenamente as interações sociais para rolarmos as redes sociais, na ilusão de não perder nenhuma possível novidade? O famoso doomscrolling é o hábito de consumir conteúdos desenfreadamente e muitas vezes sem noção da passagem do tempo – doom significa literalmente “ruína” ou “perdição”, ou seja, rolagem da perdição.
Dessa forma, deixamos de construir relações humanas significativas, já que o tão atraente mundo virtual está a um botão de distância, seja em casa ou em eventos sociais.
Abrace o silêncio
Você é do tipo de pessoa que precisa de algo tocando ao fundo para realizar suas tarefas? Seja através de um programa de TV, um podcast ou um vídeo no YouTube, o novo “som ambiente” torna-se uma companhia em meio a momentos de solidão. No entanto, é mais importante aprender a lidar com sua presença a mitigá-la com tecnologia.
Solitude é enxergar os impactos positivos de estar sozinho, em silêncio consigo mesmo. Além de promover tranquilidade e autoconexão, abraçar a quietude pode reduzir o estresse e a ansiedade, desacelerando nossa mente em um mundo que nunca para.
Da próxima vez que for lavar a louça, realizar um trabalho ou apenas ficar sozinho, experimente manter as telas desligadas e perceba os efeitos no seu fluxo de consciência.
Escreva com papel e caneta
Com o aplicativo de notas no celular, ou mesmo uma conversa consigo mesmo no WhatsApp, andar por aí com um bloquinho de papel e uma caneta pode parecer antiquado, mas o hábito de escrever à mão traz inúmeros benefícios cognitivos.
Um estudo da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia revelou que a escrita estimula a conectividade entre diferentes regiões do cérebro, o que não acontece ao digitarmos no celular ou no computador. Além de facilitar o aprendizado, estimula o desenvolvimento da coordenação motora fina, já que é necessária a quantidade certa de pressão e precisão para a escrita à mão.
Desconecte-se
Há menos de duas décadas, os celulares não eram uma extensão do corpo. Os smartphones ainda não existiam, e em vez de um “computador de bolso”, as pessoas somente tinham um aparelho que realizava ligações, tirava fotos em baixa qualidade e oferecia o jogo da cobrinha.
Mesmo nos computadores, o algoritmo não era infinito. Redes sociais como o Orkut, por exemplo, exibiam a mensagem “você chegou ao fim” ao rolar demais a timeline – porque o conteúdo realmente havia acabado. Você passou por todos os pensamentos e fotos que seus amigos, porventura, decidiram postar. Viu as notícias mais importantes do dia, respondeu a todas as mensagens. Era hora de desligar o computador e viver no mundo real. E sem a urgência de checar o celular.
Embora as trends sejam mais conhecidas por modas passageiras, que muitas vezes baseiam-se no consumismo, os mais jovens descobriram um jeito de usá-la a seu próprio bem – sem que isso envolva comprar, consumir e postar. Pelo contrário, a vontade de viver nos anos 2000 revela um presente que, seja para os novatos ou veteranos, é sufocante.
O objetivo não é regredir ao passado, mas buscar um estilo de vida mais humano e menos tecnológico. Deixar de viver em um limbo entre o digital e real – no qual cada um luta pelo seu espaço e, na maioria das vezes, torna-se um só –, resgatando o que, nos últimos anos, foi perdido: a possibilidade de desconectar-se.




