Precisamos falar sobre psoríase
Doença ainda é cercada de preconceitos e desconhecimentos
3 min de leitura
Estimativas indicam que o índice de pessoas com psoríase pode ser de até 4% da população mundial, o que significa que milhões de pessoas sofrem com esta doença e outros milhões ignoram suas causas e tratamentos.
O Nosso Bem Estar foi ouvir a dermatologista Moira Festugato, especialista no assunto e autora de livros sobre o tema, nos quais ela se empenha em oferecer importantes informações para esclarecer a todos e para minimizar os efeitos da doença. Confira alguns tópicos:
Origem
A psoríase é uma doença autoimune e não é contagiosa. Para alguém ter psoríase é necessário ter os genes no código genético familiar, que pode estar em um ancestral longínquo e vir a se manifestar em algum momento.
Mas a psoríase também depende do fator imunológico e de fatores desencadeantes, que podem ser medicações, infecções bacterianas e virais, o álcool, o fumo, aspectos psicológicos, estresse, exposição à fumaça de cigarro, clima e traumas na pele. Muitos tipos de injúrias cutâneas podem induzir psoríase, por exemplo: picadas, queimaduras, tatuagens, escoriações, etc.
Manifestação
A psoríase apresenta lesões vermelhas, que chamamos de placas com vermelhidão, e escamas. Nesta placa acontecem os fenômenos imunológicos a cargo de células como linfócitos que formam uma rede de substâncias inflamatórias que culmina nas lesões da pele.
Se a psoríase afetar as articulações, haverá dor e inchaço. Alguns pacientes têm o hábito de remover as escamas, o que pode provocar sangramentos, já que na lesão existem pequeníssimos vasos sanguíneos que estão dilatados.
Constrangimento
A maior queixa dos pacientes é sobre o constrangimento que essa doença causa.
A psoríase afeta todos os aspectos da qualidade de vida - psicológicos, sociais, sexuais, profissionais - pois interfere na imagem do paciente, sua autoestima e seu bem-estar.
De acordo com pesquisas médicas, o que pode levar a maiores complicações cardíacas nos portadores de psoríase é a depressão. Logo, é esperado que pacientes com psoríase apresentem piores desfechos nas doenças cardiovasculares que outros pacientes que não sejam portadores desta doença.
Estudos mostraram que, entre os pacientes de psoríase, também é maior o índice de ansiedade, o abuso e dependência de álcool e drogas. Esses fatores afetam a qualidade de vida, a adesão ao tratamento e, sobretudo, o prognóstico dos pacientes com psoríase. Por isso, é importante investigá-los e, sempre que possível, encaminhá-los a tratamentos multidisciplinares.
Tratamento
Por vezes, a pessoa procura qualquer coisa para ter alívio e, infelizmente, nem sempre encontra o certo. Faz o que pessoas leigas aconselham e só piora o caso.
Existem os tratamentos medicamentosos, que o paciente aplica nas lesões, como cremes ou pomadas, e medicamentos via oral ou até injeções, conforme o tipo de psoríase.
Mas a dermatologista Moira Festugato ampliou o olhar sobre a doença. Ao longo de quatro anos pesquisou sobre os hábitos alimentares de pacientes com psoríase e chegou à conclusão de que os alimentos termogênicos pioram a doença. Entre eles estão o café preto, o chimarrão, a pimenta, o chá preto, o chocolate e todos os alimentos que contêm cafeína.
Constatou também que os pacientes consumiam muitos condimentos industrializados, alimentos com glutamato monossódico, defumados e bebida alcoólica. Todos com ações negativas para a psoríase. A pesquisa resultou no livro “Psoríase, o que não comer e o que comer”, um guia de orientações alimentares para os portadores de psoríase, que inclui orientações de nutricionista.
Em seu trabalho médico, a dermatologista vem orientando os pacientes para uma alimentação mais saudável e para mudar alguns hábitos.
“Todos nós temos uma defesa inata com a qual podemos contar, que é a Adenosina, um potente anti-inflamatório que tenta limitar o dano, não só na pele mas em todos os tecidos do corpo. Se nas lesões de psoríase este mediador estiver diminuído, haverá maior inflamação. Então é necessário que ele funcione como um agente atenuante na psoríase. Isso se consegue mantendo um bom estado de saúde, tratando e evitando tudo que é prejudicial, como infecções, obesidade, síndrome metabólica, alcoolismo, tabagismo e alimentos que atuam como transgressores no aumento do processo inflamatório”, explica a médica que é também autora do livro “A Pele de Rafael”, sobre o tema.