Fome real x fome emocional

A atenção plena no ato de comer pode levar a escolhas mais saudáveis

Redação NBE

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08/07/2021
Fome real x fome emocional Adobe Stock/NBE

4 min de leitura

Em 2020, o Brasil passou a ocupar a preocupante posição de país mais ansioso do mundo, de acordo com dados da OMS (Organização Mundial da Saúde). São mais de 18 milhões de pessoas que sofrem com o transtorno e têm a qualidade de vida diretamente afetada pelo problema.

A ansiedade leva o cérebro a um estado de alerta. Os pensamentos ficam mais agitados, focados em preocupações e surgem as sensações desconfortáveis.

“Não é raro buscar o alívio do desconforto na comida, já que a ingestão do alimento ameniza brevemente aquela sensação”, aponta a psicóloga Alice Martines, coordenadora de grupos de Mindful Eating no Centro de Recuperação e Estudos da Obesidade.

Segundo ela, esse “comer” para lidar com a ansiedade muitas vezes acontece no “piloto automático”, sem consciência, o que aumenta a probabilidade de ingerirmos alimentos em excesso. Um bom exemplo é quando estamos trabalhando e deixamos um pacote de bolachas por perto, terminando ele sem mesmo notar.

“O problema maior é quando a comida se torna o único recurso que temos para lidar com essas sensações, pois isso acarreta excessos que trazem prejuízo para nosso corpo”, pontua Alice Martines.

Através da abordagem do Mindful Eating, é possível estimular e treinar o ato de comer com atenção plena. “Isso possibilita escolhas mais saudáveis e que trabalham também com o comer emocional, desenvolvendo formas mais eficazes de lidar com as emoções”, explica a psicóloga.

A estreita relação entre a ansiedade e a má alimentação também está no radar da nutricionista Débora Corrêa, com especialização em Comportamento Alimentar.

“Muitas pessoas buscam na comida um alívio imediato, uma espécie de ‘bengala’ para lidar com as adversidades. Como o nosso cérebro funciona de forma associativa, a comida se torna uma estratégia rápida, acessível e fácil para episódios de desregulação emocional. A longo prazo, esse comportamento pode trazer diversos prejuízos: inabilidade de gerenciar as emoções de forma assertiva, aumento de peso, culpa, vergonha, e até mesmo o aumento da própria ansiedade”, explica.

Mulher comendo

Como diferenciar

A nutricionista Débora Corrêa ensina que o primeiro passo é nos conectarmos melhor com as sensações do nosso corpo e praticar o chamado “comer intuitivo”.

- Quando temos fome física (fome real) ela vem acompanhada de ruídos no estômago, sensação de estômago vazio, pensamento focado em comida (inespecífica). Se a fome começa a ficar muito ‘alta’ podemos até mesmo sentir dores de cabeça e ficarmos extremamente irritados. Quando a fome é real, comemos qualquer alimento, não somos seletivos, bem diferente de quando comemos em resposta a um episódio de ansiedade. A fome é real se manifesta no estômago. Mas num quadro de ansiedade, a manifestação pode ser um aperto no coração, um nó na garganta, uma mente mais acelerada. Na fome emocional surge uma vontade específica de comer um determinado alimento (geralmente doces) com ausência de sinais físicos de fome (ruídos no estômago), acompanhada de uma “urgência” em comer algo extremamente gostoso. Essa vontade dificilmente encontra a satisfação com pouca quantidade. Normalmente vem acompanhada de episódios de exagero alimentar, onde a sensação principal após comer é de estufamento, vergonha, frustração e culpa.

Para comer de forma intuitiva

Conforme a nutricionista Débora Corrêa:

“- Coma guiado por regras internas (fome, saciedade, vontade genuína de comer);

- Conecte-se com os sinais físicos do corpo e também com as emoções;

- Aumente o diálogo com você mesmo no sentido de se perguntar “O que eu preciso agora?” (muitas vezes você não precisa comer, mas sim, de atenção e carinho);

- Lide com as emoções sem usar a comida (aumentar o repertório para o alívio das emoções é importante). Explore outras alternativas que não seja comer (como escutar uma música mais tranquila, falar com um amigo, correr, caminhar, meditar, etc).”

Para lidar com a ansiedade

Conforme a psicóloga Alice Martines:

“É importante que possamos desenvolver outras habilidades para lidar com os pensamentos e com as sensações de ansiedade, buscando novos recursos de distração, relaxamento e conforto.

Pode ser uma prática de meditação ou mindfulness, conversar com alguém sobre nossas preocupações ou mesmo ouvir uma música.

Sentir ansiedade é algo natural e que ajuda a nos prepararmos para o futuro. Porém, no momento em que essas sensações impactam na nossa qualidade de vida, precisamos buscar formas mais saudáveis de manejá-la ou buscar ajuda de um profissional para auxiliar nesse processo. Caso o quadro evolua para uma compulsão alimentar, é necessário ser tratado através de uma equipe multidisciplinar.”

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