Uma nova sociedade

Cresce a consciência de que não basta apenas remendar os problemas de uma sociedade ou de um sistema produtivo que é antiecológico em si.

Arno Kayser

Arno Kayser

25/11/2021
Uma nova sociedade Freepik/NBE

3 min de leitura

Muita gente crê que os ecologistas são pessoas preocupadas apenas com a permanência das árvores e com o combate a poluição.

Esta visão, equivocada, é difundida pelos que são contrários à ecologia, por questões particulares, bem como porque o movimento ecológico abrange um leque muito grande e não claramente definido de simpatizantes e militantes.

Muitos deles realmente estão preocupados apenas com a defesa do verde, dos animais em extinção ou com o combate à poluição desta ou daquela indústria ou atividade.

E isto até porque não há ainda, nem dentro do próprio movimento ecológico, uma definição clara do que seja este movimento e uma discussão mais profunda sobre como alcançar estes objetivos de forma definitiva.

Mesmo assim, dentro desta imensa gama de militantes e simpatizantes cresce a consciência de que não basta apenas tapar os furos e remendar os problemas de uma sociedade ou de um sistema produtivo que é antiecológico em si.

É preciso começar urgentemente a tarefa de construir uma sociedade ecológica, que faça uso de tecnologias brandas para assegurar as necessidades básicas e que administre a distribuição de riquezas geradas de uma forma justa, sem que haja processos de exploração indevida do ser humano sobre a natureza e sobre seus semelhantes.

Esses ecologistas propõem um modelo de eco desenvolvimento que garanta uma vida abundante para todos, respeitando os processos naturais e garantindo indefinidamente a sua sustentabilidade.

A visão eco desenvolvimentista propõe revoluções em todos os campos produtivos, substituindo tecnologias antinaturais, que destroem a sustentabilidade da vida, por processos baseados no conhecimento e respeito profundo às leis naturais.

Coerente com esta visão no campo tecnológico há uma proposta de descentralização do poder e da posse dos meios de produção, de modo que se construa uma sociedade onde todos tenham suas necessidades básicas atendidas e que todos gozem de grandes liberdades individuais.

Dentro desta visão, a geração de alimento e de matérias primas no meio rural se daria segundo moldes tecnológicos que se baseassem no respeito às leis da natureza. Deste modo, além da produção de safras abundantes, passaria a ser importante a conservação dos recursos naturais que suportassem esta produção.

Estas propostas tecnológicas são chamadas de agricultura alternativa e abrigam, a exemplo dos movimentos ecológicos, uma gama muito ampla de visões.

Além das várias propostas tecnológicas, existem correntes filosóficas e políticas interessadas no desenvolvimento da agricultura alternativa, como base de um aperfeiçoamento do sistema capitalista e também como base de uma transformação espiritual ou social.

Independentemente de quanto mais ou menos avançada for esta proposta, ao movimento ecológico interessa o avanço e o desenvolvimento de uma tecnologia alternativa na administração da produção rural, pois as áreas que a ela se converterem passarão a ser também grandes reservas naturais que darão sustento não apenas à vida humana, mas a toda uma gama de vida selvagem. Além disto, elimina-se toda a contaminação do ar, água e solo que acontece atualmente na agricultura.

A evolução, em escala universal, neste sentido, torna desnecessária toda a luta terapêutica para sanar as agressões de sistemas antinaturais, pois a substitui por um sistema que é a profilaxia preventiva destes problemas (erosão, desmatamento, contaminação por agrotóxicos e adubos químicos).

Além disto, há a possibilidade de organizar novas estruturas econômicas, que aproximem produtores e consumidores interessados em alimentos de maior qualidade, e no fim da exploração de ambos por atravessadores situados entre estes dois polos.

Formas cooperativas neste sentido já existem, constituindo-se em laboratórios e polos de difusão de uma visão eco desenvolvimentista e em exemplos concretos de sua viabilidade.

Também representam experiências de relações de poder mais justas e menos autoritárias, preparando as bases de uma sociedade mais igualitária e fraterna.

O desenvolvimento do modo de produção agrícola alternativo interessa ao movimento ecológico por ser o único em condições de garantir a sobrevivência da vida no planeta, que é o grande objetivo do movimento.

Apoiar este processo é uma das grandes tarefas dos ecologistas, pois é através dele que se chegará a uma nova sociedade. Tal sociedade aplicará esta mesma visão em todos os demais processos produtivos, visando à satisfação de tudo que é essencial e preservando a vida no planeta.

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Arno Kayser

Arno Kayser

Agrônomo, ecologista, escritor e autor do Blog “Para pensar a Ecologia em dias tão confusos”.

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