Pressa para tudo, tempo para nada

Vivemos o paradoxo da modernidade, onde a gente assiste ao trailer e já quer saber o desfecho final

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

15/01/2025
Pressa para tudo, tempo para nada Freepik/NBE

2 min de leitura

Se fosse uma Copa, os brasileiros já estariam levantando a taça. Afinal, quem mais consegue ouvir mensagem de WhatsApp em 2x, cancelar um Uber porque vai demorar mais de cinco minutos e ainda reclamar que o tempo está voando?

Carol Tilkian explica isso no Café Filosófico “O amor ainda é possível na velocidade 5G?”. E, segundo ela, estamos tão focados no final da história que esquecemos de aproveitar o “durante”. É como se a gente só quisesse ver o trailer e já saber o desfecho, sem a paciência de curtir o filme todo.

Mas e aí? A vida é que tá correndo ou somos nós que apertamos o botão de acelerar?

Numa pesquisa da Universidade de Cornell, colocaram eletrodos nas pessoas, tocaram uns barulhos e perguntaram: “Quanto tempo durou isso aí?”.

O resultado? Quem estava com o coração disparado achava o barulho rápido. Já quem estava zen achava que durou mais. Ou seja, não é só o relógio que tá apressado, é o nosso coração também.

Carol diz que o problema é que não damos tempo para saborear as coisas, e isso nos deixa angustiados.

Resultado: viramos workaholics, sofremos de burnout e, quando tentamos aliviar o peso, acabamos virando viciados em outras coisas – como esportes ou vida saudável. Nunca teve tanta gente correndo maratona ou postando foto de smoothie verde no Instagram.

Mas será que é autocuidado ou só uma forma de fugir do vazio?

A angústia, claro, rende uma boa grana pra alguns. Dormir mal? Medicamento. Problema no relacionamento? Medicamento. E o nosso vício em tecnologia só piora.

Passamos, em média, 9h30 por dia na internet. Isso dá uns 41 anos ao longo da vida. Basicamente, a gente tá vivendo mais no on-line do que no presencial.

Essa overdose digital afeta tudo, inclusive os relacionamentos. Hoje, preferimos as telas às pessoas e queremos que nossa vida seja tão bonita quanto nosso feed (mesmo sabendo que a vida nas telas é editada). No amor, buscamos alguém que cumpra uma lista de requisitos e, quando conseguimos, queremos controlar tudo: onde a pessoa tá, o que tá fazendo… Dúvida? Liberdade? Nem pensar!

Tempo ao tempo

A psicanalista Christiane Ganzo também fala disso no livro “A vida como ela é para cada um de nós”. Segundo ela, temos essa mania de achar que o que foi prometido ontem precisa valer pra sempre. Só que a vida não é assim: é movimento, mudança, transformação. Somos tipo um caleidoscópio, mudando a cada pequena virada. Somos permanentemente impermanentes e essa é a nossa beleza.

Carol conclui que uma boa relação não é a mais longa ou sem conflitos, mas aquela que tem respeito, diálogo e disposição pra enfrentar conflitos juntos.

E o tempo, apesar de tudo, é nosso aliado. Precisamos aprender a dar tempo ao outro, ao amor e a nós mesmos. Menos pressa, mais degustação. Porque a vida é curta demais pra viver em 2x.

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Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento

Luis Felipe Nascimento é professor na escola de Administração da UFRGS.

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