Por que as amizades murcham na vida adulta?
Duas especialistas falam sobre o que acontece com as amizades e por que perdemos mais amigos do que ganhamos na vida adulta

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Lembra-se das suas amizades na infância e adolescência? Eu não vivi as “festas do pijama”, mas era inseparável de meus amigos. Passávamos as manhãs juntos na escola, as tardes jogando futebol de mesa ou batendo bola na praça. Nem sei quando, ou se fazíamos, os temas. Na adolescência, vieram as festas, os aniversários de 15 anos, dos quais frequentemente fiz parte do “bolo vivo”, seguidos pela militância no grupo de jovens da igreja, no movimento estudantil e na política. Na universidade, virávamos noites estudando, frequentávamos festas e muitos compartilhavam moradias. Foi um tempo de intensa convivência e sonhos comuns. Imagino que este período da sua vida não tenha sido muito diferente do meu. O que foi então que aconteceu que hoje tem tanta gente com dificuldades de manter amizades na vida adulta?
Como apontam Alana Anijar (em podcast) e Weike Wang (num artigo), na vida adulta perdemos mais amigos do que ganhamos. Esta realidade me fez refletir sobre meu próprio esforço para manter as amizades que valorizo. As autoras explicam didaticamente as causas e possíveis soluções.
Alana destaca que a amizade não é luxo, mas necessidade emocional. Na vida adulta, trabalho, família, filhos e os boletos consomem nosso tempo. Encontrar os amigos não é mais espontâneo como antes; exige intenção e planejamento. Se alguém não chamar para um café, para uma caminhada, para algum encontro ou tomar a iniciativa para manter o contato à distância, o vínculo se desfaz.
Weike aponta que os casamentos podem ser um fator. Os amigos se casam e os cônjuges se tornam seus melhores amigos. A confidência com o amigo solteiro acaba, pois as conversas agora chegam aos cônjuges, com quem talvez não haja a mesma intimidade.
A verdade é que tendemos a nos aproximar de quem vive realidades semelhantes. Pais buscam a companhia de outros pais; visitar amigos sem filhos se torna uma preocupação (o que os nossos filhos vão fazer na casa deles?). Amizades passam a girar em torno de elementos unificadores: filhos, pets (como os donos de cães que se entendem bem), hobbies (grupos de Harley-Davidson, colecionadores).
Vale lembrar que as amizades podem criar vínculos saudáveis, mas também dependências disfuncionais: a amiga que age como uma “mãe” (controlando, cuidando excessivamente) ou a que se coloca no papel de “filha” dependente.
200 horas no mínimo
Alana fala das “Estações” da Vida: casamento, filhos, mudança de cidade ou de valores, podem unir ou afastar. A pergunta crucial é: “Seríamos amigos se nos conhecêssemos hoje?”. Se a resposta for “não”, é sinal de que a amizade esfriou. Isso não é culpa de ninguém; amizades podem ser temporárias, sem perder sua importância. Vale lembrar que é possível reacender amizades “adormecidas” – como ocorreu comigo ao reencontrar amigos após 40 anos, retomando o vínculo como se o tempo não tivesse passado.
Alguém pode estar se perguntando: “Como cultivar amizades verdadeiras na vida adulta?” As especialistas citadas fazem recomendações. Alana ressalta que construir uma amizade profunda exige 200 a 300 horas de convivência. Importante ter presente que vale mais ter 2 ou 3 amigos verdadeiros do que centenas de contatos em redes sociais.
É, meus amigos, amizade exige trabalho! É preciso ouvir e ser ouvido. Quando só mostramos nossas conquistas e fortalezas, impedimos a conexão genuína. Compartilhar fragilidades estimula o outro a ser autêntico. Amizades são um presente e uma construção contínua. Quando verdadeiras, curam, nos fazem rir, refletir, crescer e não precisam ser perfeitas.
Então, cuide bem de quem caminha ao seu lado e seja também uma boa companhia. A vida é significativamente melhor com amigos e bons vínculos. Como diz Rubel em “Partilhar”: “A vida é boa, mas muito melhor com você. Eu quero partilhar, eu quero partilhar, a vida boa com você.”