Internet, campo minado

As possibilidades da internet facilitaram muito a nossa vida, mas a tecnologia exige que tenhamos mais esperteza e astúcia para não cair em golpes

Sílvia Marcuzzo

Sílvia Marcuzzo

15/12/2025
Internet, campo minado Freepik/NBE

3 min de leitura

Ao mesmo tempo que as possibilidades da internet facilitaram muito a nossa vida, leia-se ter acesso ao banco, como pagamento de contas, mensagens instantâneas e ter o mundo na palma da mão, a tecnologia exige que tenhamos cada vez mais esperteza e astúcia para não cair em golpes, entre outras ciladas.

Se eu, que me achava entendida no negócio, comprei de um site que nunca me entregou a mercadoria, imagina aqueles que ainda são do tempo do golpe do bilhete. Geralmente, quando a esmola é demais, é obrigatório desconfiar. E é aí que complica muita coisa. Fui criada em um ambiente, uma família e uma comunidade em que o verbo “confiar” realmente tinha sentido ao conjugar.

Claro que, com o andar da carruagem pelas estradas da vida, fui tendo muitas decepções. Jornalista, por si só, precisa sempre questionar, cheirar as possibilidades de verdade. Mas hoje, conforme o tipo de conteúdo que acessamos, as ciladas são cada vez mais sofisticadas. E isso inclusive altera uma série de coisas do nosso funcionamento.

Além de me sentir péssima, com minha autoestima lá no pé de chinelo, fico horrorizada em imaginar no que isso vai dar. Esses dias o banco me perguntou se eu tinha feito uma compra de aproximadamente R$ 150, fui conferir com uma atendente – aliás, a gerência da minha conta fica no Recife, uma estratégia para que resolvamos tudo pelo contato eletrônico, ou seja, aquele olho no olho na agência é algo cada vez mais raro, só para quem tem um lastro conveniente para o banco isso é possível – e já tinha sido descontado no mês passado o mesmo valor. É uma compra feita em Campo Grande!

Ou seja, não dá para usar cartão em compras online. Também não dá para acreditar nas milhares de ofertas que aparecem. É o verdadeiro desmonte das práticas exigidas pelo Código de Defesa do Consumidor. E isso não é novidade. Virou lugar comum. Nem a imprensa se interessa em esclarecer os milhares de golpes que são verdadeiras arapucas para quem é honesto e acredita no que está sendo oferecido.

O pior: como os veículos tidos como confiáveis, os meios de comunicação que pagamos por assinatura estão desesperados por visualizações, likes, engajamento e as notícias produzidas por eles não são as que interessam à coletividade, ao bem-viver, mas sim aquelas que chamam visualizações, são rasas e até sensacionalistas.

Há casos de conteúdos pagos para serem produzidos (já se perguntou quem bancou a ida de algum repórter a algum evento relevante?) ou que são de interesse das próprias empresas.

Desventuras

Eu teria muitos outros exemplos para citar. Mas, se eu, que sou pesquisadora da área da comunicação, estou percebendo o quanto sou ignorante para ainda cair em golpes, eu fico indignada. Pois será que estamos nos dando conta do tanto de armadilhas a que somos submetidos todos os dias?

Por conta de demandas e problemas de equipamentos, estou há mais de 36 horas sem celular. Nossa! Estou longe do smartphone e estou me sentindo muito bem! Até melhor! Confesso que também não estar acessando grupos onde são despejadas (vomitadas, inclusive) notícias do momento sobre o desmonte da legislação socioambiental, do Congresso Nacional, das desventuras das administrações em todas as instâncias de governo tem sido revigorante.

Na Feira do Livro de Porto Alegre, conversei com um consagrado jornalista de São Paulo, que parou de cobrir os meandros climáticos porque já não estava mais lhe fazendo bem. É muito pesado acompanhar o andamento das coisas por décadas e ver que conquistas consolidadas pela sociedade organizada e por governos e parlamentares que sabem o significado e o valor da precaução estão sendo bombardeados pelo pior Congresso Nacional da nossa história.

Escrevo essas linhas com uma pitada de vergonha e um punhado de desapontamento. Depois do meu corpo dar sinais de que não sou tão forte como eu pensava, que preciso salvar a minha pele, a minha sanidade, antes de achar que posso mudar o que não está ao meu alcance. Agradeço a você que me lê e me estimula a manter esse espaço que serve como uma estratégia de manter o exercício da escrita ativo com colheradas de senso crítico.

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Sílvia Marcuzzo

Sílvia Marcuzzo

Sílvia Marcuzzo é jornalista, "artivista" e participa de coletivos e redes onde procura articular ações e disseminar informações sobre como a comunicação se relaciona com a sustentabilidade. Instagram @silmarcuzzo

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